Bêbados, psicanalistas, sexo e noites insones; Ovos mexidos, diálogos pós-morte e pessoas que têm merda na cabeça; Animais da fazenda, Afrodescendentes cheios de lascívia e pescarias. É isso que você encontra por aqui.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009 Histórias de Reis e Rainhas, parte 2

-Mas quem autorizou esta bazófia?!?
-Foi a velha surda -disse um dos guardas, logo voltando seus olhos para o companheiro.
-Eu não acredito! Mas o General era nossa garantia! E agora está morto! Ah, se vocês não formassem um casal tão bonitinho, eu mandava cortar-lhes a cabeça!
-hehe, obrigado, nós sabemos...
-Mas então... Você queria saber das nossas intenções, não é mesmo?
-Eu quero saber é da minha cerveja e o porque dessa sala ainda estar uma bagunça se há mais de 12 mulheres aqui, sem contar as duas "purpurinadas", ali...

A expressão de todos foi mais ou menos: "Isso é pegadinha? Cadê a câmera?! Só pode ser pegadinha..."

-Recomendaria ao senhor que controlasse esse seu vocábulário, que quem está com o abacaxi no pescoço aqui, é o senhor mesmo.
-Que porcaria de ameaça é essa? Um abacaxi no pescoço?! E vão me torturar com o quê? me fazer lavar a louça que eu sujar se não entregar meu reino?!?
-Haha, senhor engraçadinho... Não lembro de ter casado com um bobo-da-corte, haha...
-Diga-lhe que iremos castrá-lo!
-Como assim, castrá-lo? De novo?
-Ele não é eunuco, guria! Ele só fazia amor com uma de nós, a mais "formosa", aquela piranha! Não gostava do resto! Ah, se ela não tivesse sido tão útil ao nos abrir os olhos, não teria pena de jogá-la no fogo junto com ele!
-Boa idéia! Jogue ele ao fogo!
-Isso! Fogo! Fogo! Fogo! Ai, tenho que dizer que antes eu não gostava de vocês, mas agora percebo que nós seremos melhores amigas pra sempre!

Arrastado pelos guardas portão afora, o rei é atirado em cima de uma imensa fogueira de São João. Não era época para festividades Juninas, mas o Rei gostava de ver a fogueira sempre acesa
durante o ano. Chame isso de ironia. Viu, só! Queima agora, maldito, queima! Anarquia! Punk Rock extremo! Uahr! É isso aí, porraaaaa!

-Não! Querida! Queridas! Me soltem-- Eu-- Amo todas vocês! Juro que sim! Aaaahhh!

Finalmente, depois de muito se debater e gritar, o rei desfalece em meio às chamas e seu corpo é consumido pelo fogo. O povo se ajunta em volta da fogueira, tentando entender qualé a daquelas malucas que botaram fogo no Rei.

-Qualé a de vocês, hein? Por que fizeram isso?!
-Como assim? Ele era um homem terrível! Explorava as pessoas e só se importava com seus próprios prazeres! Chegava em casa e ia logo pedindo "querida, cerveja!"; "querida, pernil!";"querida, meu banho está quente?";"querida, tire os pêlos da minha orelha!"
-Mas ele era sábio! E com ele, nós éramos uma nação estável e que continuava a melhorar mais e mais! Há 5 anos, 5 reles anos, não tínhamos nenhuma agricultura! Hoje são campos e campos! O que falar da segurança, então? Não havia mais crimes, pois a pobreza estava quase extinta! O que me diz disso?
-Bom, vocês não acham um crime ele usar um casaco de pele de animais? Cadê o respeito com a natureza?
...
-Pode ser um pecado capital, um crime, uma heresia, mas não fossem essas mantas, já teríamos morrido de frio!
-Então bota mais lenha nessa fogueira!
-Ei! Deixa essa conversa boba de lado! Diga-me, mulher, o que é que vai ser de nós! Quem vai assumir o governo? Não há nenhum grupo dissidente aqui, todos éramos a favor do rei...
-Eu te digo o que vai ser de vocês! Meninas, vamos lá!...

Foi então que as mulheres tomaram o poder, e depois o deixaram, instaurando uma república anarquista. Foi a primeira experiência de sucesso nesse tipo. Foram anos de alegrias, liberdade, fraternidade e tudo isso de graça, sem impostos, autoridades ou opressões de qualquer tipo. A ideologia foi se enraizando mais adentro da alma dos habitantes, e depois de alguns meses, até os mais velhos se entregaram à vida sem limitações e sentiram uma vez mais o fulgor jovem de estarem vivos e se abrirem à novas experiências.

Porém... Sempre há um porém. A fogueira estava mais alta naquela noite. Assim como a cabeça das pessoas. Estavam queimando dinheiro e uniformes da segurança (embora realmente fosse um crime queimar aquele terninho da luí vitoum, da coleção de outono daquele ano... Um cri-me!) e quaisquer outros adereços ou objetos que simbolizavam a submissão do homem à outros homens ou instituições. Vinho foi distribuído para todos e muitos dormiram ao relento, ao som de violinos e flautas que os outros, acordados (mas nem por isso mais sóbrios) tocavam. Não se sabe ao certo o que foi o causador, mas as chamas se espalharam e o castelo pegou fogo. Digo, literalmente. Não sobrou uma viv'alma pra contar história. Todos morti-nhos. Que pecado.

Notas: Há, logo no início do texto, uma inclinação machista do narrador, que vai "amolecendo" e, já no final, parece que compactua com as esposas, "muda de time". Achei muito interessante, já que não tinha percebido isso enquanto escrevia... Acho que acabei simpatizando com as personagens durante a escrita. Mas não amoleci, de jeito nenhum! Sou é macho! Eu juro! Eu... É melhor parar por aqui...

sexta-feira, 20 de novembro de 2009 Histórias de Reis e Rainhas, parte 1

Não se sabe ao certo até hoje, o que levou à queda do reinado do Rei * IV, O Queridão,durante o século XV, em uma região relativamente remota da Grande Britânia. O que se sabe, é que houve uma conspiração meticulosamente enjambrada para desestruturar o governo vigente e instaurar uma ditadura patriarcal de orientação religiosa onde valores como distribuir doces à crianças no Halloween e depois negá-las assistência odontológica só para transformá-las em adultos banguelas (pois assim desejava seu deus, o digníssimo e honrado "Azul, Banguela e Careca", ou ABC pros faixa). A proposta era boa, não há como negar. O que aconteceu realmente? Quem eram os conspiradores? Qual foi o fim da história? Ainda há espaço para outra piada? São perguntas que apenas a história responderá, aquela safada.

Enquanto ela não se manifesta, ficamos aqui com uma situação que bem que poderia ser a que aconteceu realmente:

O Rei * IV tinha doze esposas oficiais e todas compareciam aos eventos da corte. Certa vez, num jantar informal, um dos generais (o mais faixa do rei) do seu grande exército, perguntou para uma delas o porquê de ele ter a escolhido para ser a primeira esposa, que logo explicou que era pela sua incrível habilidade em lavar dois pratos ao mesmo tempo com uma esponja só. Naquele tempo se casava por conveniência, a vida era mais simples.

É claro que o grupo começou a cacarejar incontroladamente, dividindo impressões e motivos sem muita relevância até chegar em pauta o episódio da novela do dia anterior (exibido nos anfiteatros reais pela companhia teatral Globo). Então, com um bater de palmas, o rei, de saco cheio já, silencia suas esposas e pede outra cerveja. Ouve-se um resmungo ao fundo: "Gordo preguiçoso! Mamãe estava certa..." O rei ignora sorrindo e dá uma piscadinha para o general.

Numa atitude mais tendenciosa, aquela que deve ser a mais... "Formosa" esposa, aproveitou o silêncio coletivo para gabar-se:
-Ele diz que eu transo melhor!

Ouve-se apenas a risada do general e murmúrios de estranheza das outras esposas. O clima se torna pesado. O rei chama a segurança real:
-O negócio vai feder.

Do fundo, uma das esposas, a mais impulsiva, logo viu-se passada pra trás, e
-Mas ele me disse que era eunuco!
...(silêncio constrangedor)
...(o general tenta esconder as risadas com a mão)
-Eu sabia!
-Seu cachorro! Quero o divórcio!

-Grande bosta! Eu nunca te quis mesmo!
-Puta!

-Não falei, não falei? Falei, não falei?!? - De fato, a #2 tinha falado. Mas sendo a fofoqueira do reino, ninguém dava um tostão pelo que dizia.
-O que é "eunuco"?
-Como é quié?! -esta era surda.
-E não é?
-É, falou o mesmo pra mim!
-Comigo, o mesmo

-Pra mim, também!
...
-Mas você é irmã dele!
-E o que isso tem a ver?
-Como é quié?! - a surda, mais uma vez.
-Calaboca, sua velha surda!
-Olhaqui, não me chama de gorda, sua vaca!
-Quem você está chamando de vaca, sua vadia do caralh*?
-Elba Ramalho de c* é rolha.
-Ai, é impossível da gente se entender, de tão surda que é!
-Como?!? Sim, sim... Com duas colheres de açúcar, por favor.
-Ah, deixa pra lá.
-Café ou chá? Se decida logo, menina...
-Eu vou buscar logo seu chá, anciã.
-Ah, vá você!

Ao levantar-se, a esposa #7 nota que o Rei está tentando sair na maciota, e alerta as outras:
-O REI ESTÁ TENTANDO SAIR NA MACIOTA! - a #7 era daquelas que falavam a primeira coisa que dava na telha.
-Segura ele, que a casa vai cair!
-E pega o general bonitinho também!
-Ah, garotas, obrigado pelo elogio, mas creio que isto não será necessá-- Thwump!

Armadas com frutas e vegetais, a legião de esposas habilmente domou os seguranças, que se chamavam Adolfo e Benito, e -pasme! Eram um casal gay. Puxando um papo sobre o vestido de uma delas, depois de uma longa discussão, chegaram à conclusão de que cetim é di-vi-no e usar seda é como "vestir uma roupa feita de prazer"; Também decidiram que os seguranças teriam direito a um guarda-roupa para cada estação e que nunca repetiriam a combinação do ano passado.

Depois de liberados os seguranças cor-de-rosa, que agora observavam tudo de mãos dadas e apoiando a cabeça no ombro um do outro, o harém voltou ao ponto de partida, o rei e o general.
-Agora vocês são nossos reféns! Obedeçam nossas ordens ou vão sofrem as consequências!
-Quais são as suas reivindicações?! -bradou o rei, confuso e furioso por estar confuso.
-As nossas reivindicações?!? Hm... Queremos a paz mundial, o respeito entre os povos e que a China e os outros países comunistas como Coréia do Norte e Japão percebam que estão errados e sendo ruins para sua população endêmica.

...

-ACABA COM ESSA PUTA DE UMA VEZ! - Bradou a esposa surda, confusa e furiosa por ter deixado derramar chá na sua roupa nova.
-Querida, você é a coisinha mais linda dessa cidade-estado inteira! Teu rostinho seria perfeito se detrás dele houvesse algum resquício de cérebro...
-Alguma coisa me diz que você está ironizando as minhas palavras. Você não fazia isso, você mudou, temos que discutir a relação, porque assim, não dá.
-Na verdade, sou eu, a esposa #3, quem está dizendo isso pra você. E estou bem aqui atrás.
-O QUÊ?!? TERRORISMO POR ANTRAZ??! - a surda, uma vez mais, em um ataque de fúria. A jugular do pescoço da velha se dilata e, tal qual um homem-bomba, parece querer explodir.
-Queridas, que tal me soltarem e veremos o que podemos fazer acerca disso, ok?

-Tudo bem, mas e o que faremos com o General?
-Não sei, primeiramente, apenas me solte que eu estou com um pouco de dor nas canelas...
-Boa idéia! JOGUEM ELE PELA JANELA! DEFENESTREM-NO! - a surda berra ensandecida, espumando pela boca, já com sintomas de raiva canina.

Os guardas de pronto atenderam às ordens da velha surda e largaram o pobre generalzinho, que ainda era virgem e tinha jurado dar umazinha antes de morrer. A vida é injusta e seus sonhos se despedaçam antes que você perceba. Chupa essa, Augusto Cury.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009 Obstinação Indomável

Ricardo Cross-Kraemer Harmônico, ou Dinho C. K. H., era intrincadamente perseverante. E era perseverante por ser vaidoso. E era vaidoso por ter as sombrancelhas não-tão-bem separadas, havia uma ponte peluda e negra onde deveria haver apenas a curva do nariz. "Se a cara não ajuda, a fama tem de fazer o dobro do trabalho". Palavras de Ricardo.

Garoto obstinado, sem dúvida.

Tudo isso porque ele tinha colocado na cabeça que iria fazer o que muita gente nunca chegaria a imaginar que pudesse mover tamanha massa humana em prol de um único objetivo: resgatar a garantia de uma tevê.

Um objetivo.

Não era dos melhores, nota-se. Mas ele era obstinado, jovem, parcialmente calvo (mas só no topo da cabeça) e além de tudo, seu carisma fazia dele um bom negociador. Obviamente, o coordenador do setor administrativo da empresa faria isso num instante. Acontece que Ricardo não era mais o coordenador do setor administrativo da empresa. Ele havia perdido o emprego, e justamente por ter falhado nessa tarefa. Ricardo estava puto da vida. Acompanhemos:

-Oi, em que posso ajudar?
-Hehe... Ehr, oi, eu vim aqui antes e--
-Neeeeeeidê!
-Ah, você me reconhec--
-NEIDEEEEE!
-Escuta, eu só preciso d--
-NEIDÊ!
-Se ela não estiver, não tem problema eu volt--
-Só um momento, por favor.
Uma voz vinda de longe chega estridente, o tom exato que faria uma bagunça numa vidraçaria. Os ouvidos de Ricardo explodem a cara nota alta alcançada pelo esguio e admiravelmente ruidoso ser humano que é Neide. E daqui, todas as escalas parecem altas, altíssimas, astronômicas. Ricardo fica surdo de um ouvido:
-FALA, MENINA!
-O CARA AQUELE TÁ AQUI DE NOVO!
-O JEAN?
-NÃO, O CARA D--
-O SEGURANÇA?
-NÃO, NADA A VER... É UM CLIENT--
-OLHA, SE FOR O SEGURANÇA, MANDA ELE ESPERAR LÁ FORA QUE O MEU MARIDO AINDA TÁ AQUI!
-NÃO, O CARA DA TEVÊ!
-QUEM É QUE VEIO ME VER?!? FALA LOGO!
-O-CARA-DA-TE-VÊ!
-COMO ASSIM, DE ALGUM PROGRAMA? O PORTIOLI DA SBT?
-NÃO É, NÃO TEM NADA A V-- CARAMBA, NEIDE, VEM AQUI!
-O QUE É? O que é? Não tá vendo que eu tava faze-- Ah, maravilha... É o cara da tevê. Por que não me avisou logo, Lorení?
-Com licença, eu preciso--
-Eu tentei te falar, eu tent--
-Quando?
-Como?
-Quando?
-Quando o quê?
-Desculpem, mas eu--
-Quando tu me avisasse, mulher?
-Agora, agorinha, mas tu não me ouviu.
-Agora?
-Agora há pouco.
-Sim, mas então eu não ouvi.
-Sim, eu percebi.
-Mas então a culpa não é minha, nem tem como.
-Não disse isso... Eu só falei que eu tentei te falar e tu não me ouviu.
-Não, eu ouvi, mas não entendi, é diferente.
-É a mesma coisa, é a mesma coisa... Além disso, por que tu mencionou o segurança? O bonitinho, aquele...
-Ei, escutem, eu precis--
-Que segurança? Tu é que não entendeu direito, eu falei que--
-Eu ouvi bem, tu perguntando dele, se tinha vindo falar contigo e tarãrãn... Menina, ele é casado, viu! e tu também.
-Calaboca, guria, não fala besteira... Olha só, me acusando, me caluniando, onde já se viu?... Mas escuta, o que tu queria, afinal de contas?
-Ah, é mesmo!... Ei, aonde ele vai? Moço! MOÇO! Foi embora...

Ricardo desistiu, sabia que este dia iria chegar. E foi então, que, percebendo a impossibilidade de levar o caso adiante, Ricardo pensou: "Tudo isso só por causa de uma tevê? Eu nem assisto à tevê!".

Enquanto a chuva fina molhava seus óculos, pensava: "Eu estou pensando comigo mesmo demais, vou parar enquanto ainda estou são". E não pensou mais nisso pelo resto do dia.

Na saída, desolado por encontrar-se diante de seu primeiro fracasso, parou na porta. Carregava uma tevê analógica, grande e pesada. Estava chuviscando, o carro estava longe, longe demais para se carregar um televisor sem se molhar um pouco. Ricardo puto é uma coisa feia de se ver. Se torna desatento e irritadiço, propenso a erros estúpidos.

A chuva ficou mais forte. enquanto carregava a tevê, o fio escapou da sua mão e ele pisou em cima. O aparelho foi ao chão com força o bastante para quebrar a tela. Sem pestanejar, esticou a perna para chutar a tevê longe, no pico da ira. Perdeu o equilíbrio e caiu de costas no meio da avenida. Ele começou a chorar de desgosto. A tevê olhava para ele come se risse de sua ineficiência em se livrar dela. Dava pra ver seus transístores cheios de emoção para agradar a família inteira, seus circuitos eletrônicos criados especialmente para domar as crianças, seu coração programado para lavagem cerebral e doutrinação do espectador... Ela estava ali, estrebuchando. Mas ria de Ricardo, um teimoso patético.

terça-feira, 13 de outubro de 2009 O Beco

Garoto entra à noite num beco escuro:

-Me dá a arma!
-'TAQUIOPARIU! EU TENHO ADVOGADO, NÃO ME BATE! Cacilda como é que eu fui me enfiar nesse maldito beco, sabia que ía dar em cana... Tô saindo, tô saindo...
-Ih, ó o maluco aí... Me dá uma arma rapaz, vim comprar um trabuco.
-Como assim, moleque?!
-Me dá logo a porcaria da arma!
-Você não deve ter mais do que uns 14 anos, do que está falando?
-Vim aqui comprar uma arma, tá aqui o dinheiro.
-Garoto, você está fora da sua mente? Como é que pode vir aqui num beco escuro à essa hora da noite e simplesmente pedir uma arma? Isso pode ser perigoso para um adolescente, sabia?
-Eu sei, ok? Além do mais, eu tenho dinheiro. Tá aqui. Toma.
-Garoto, você se drogou? Droga, você não tem nem idade pra viajar sozinho! Vá arranjar um outro jeito de se matar, estúpido.
-Olha aqui seu bostinha, você vai acabar chamando a atenção dos tiras, está me ouvindo?! Pensa que eu estou brincando?? Agora pega aqui a grana e larga logo o berro aqui na minha mão!
-Como é-- Coméquié?!? "Tiras"? "Grana"? "BERRO"?!? Você acha que isso aqui é o filme dos Bad Boys? Eu tenho cara de Will Smith por acaso? Você tá mais pra Um Maluco no Pedaço, sacou? "Trabuco"... Ai, ai...
-'Cê tá viajando, falou? Eu tô aqui com a grana toda aqui e o cara acha que é brincadeira.
-Cai fora, garoto...
-Olha, me escuta então. Vou te contar uma história.
-Vai o quê?! Contar uma-- Caramba, quer me fazer dormir, é? Minha mãe não mandou nenhuma babá por aqui. Quem sabe não esquenta um leitinho, então... E faz um mingau, pra trocar as minhas fraldas que eu acho que me borrei com o susto que você me deu, garoto...
-É sério. É sério, sem brincadeira.
-E eu tô aqui pra isso, por acaso?! Tá, fala logo, a noite tá calma, mas se aparecer alguém, tu sai correndo ou te enfio a mão nos córno.
-Então... Quando eu era pequeno--
-Era?! Hahaha!
-*pigarro*... Quando eu era menor, nós éramos pobres e vivíamos num barraco. Minha mãe chegava em casa do trampo e batia no meu pai, que tinha que fazer as tarefas de casa. Hoje dizem que eu não me adapto aos padrões comportamentais da sociedade por causa da falta de um modelo paternal masculino.
-Ah, é?
-Sim. Quer dizer, isso e o fato de eu beber o dia inteiro.
-... E sua mãe sabe disso?
-Talvez, mas ela também bebe pra esquecer...
-E o que você quer fazer com essa arma?
-Hmm... Acha que eu sou trouxa? Te entregar uma dica dessas?
-Ei, rapaz... O que você acha que eu sou? Você está com a arma, não é? Esse é meu ponto, já te vi me observando nos outros dias. Se der alguma coisa errada, você vem aqui e a gente se acerta, ok?
-Você me convenceu... Eu vou te contar. O pato é um velho ricáço... Dono de uma loja de jóias atende pelo nome de Sr. Lauro Rozo, conhece?. Não tem erro, saiu da loja sozinho pra ir depositar o dinheiro das vendas no banco. Deu umas voltas antes, mas daí é que eu vi que ele tava querendo despistar. Faz isso todo dia.
-Investigou até isso, é?
-É, vou até fazer um bem pra ele, hehe... Há boatos de que quer se aposentar, e uma coisa dessas deixa o cara zureta. Vai curtir os netinhos, gastar a aposentadoria em viagens e comprar uns azuizinhos pra botar a velha pra trabalhar... Todo mundo ganha!
-E a grana é boa? Quer dizer... Vale o investimento? Senão é 400 mortinho aqui na minha mão.
-Pelo que eu ouvi por aí, é na base de uns 5, 6 mil por dia. E estamos perto do dia dos namorados, não é? Sabe como são os ricos de pau pequeno... Tentam compensar com dinheiro. O negócio é que as vendas vão subir nesses dias.
-Esperto, esperto. Tô vendo que você é a cabeça da trupe, então, né? Podia usar isso pra alguma coisa grande e quem sabe fazer carreira, sabe?
-Sério?!? Você conhece alguém do alto escalão?
-Não exatamente. Um cara é ex-cunhado do amigo de um meio primo meu. Mas se der certo, te coloco em contato. Sonhe, rapaz... Até que seus sonhos se tornem realidade.
-E você é quem, o Papai-Noel? Isso é vida de crime, eu não quero ir pro show do AC/DC ou coisa do tipo...
-Tá bom. É que eu vou te dizer, você me lembra eu mesmo no início. Muita vontade, mas espera o momento certo. Você tem carteirinha de estudante aí? Vou te fazer um desconto.
-Ah, beleza... Escuta, tô indo. Minha mãe me mata se eu volto pra casa depois das onze.
-Foi o que a minha fez com as minhas irmãs mais novas. Eu não sei como ela conseguiu ouvir elas chegarem à uma da madruga, e olha que eu tenho sono leve.
-... Puts, que pena.
-Brincadeira!
-Ah! você me pegou nessa...
-É... Quem matou fui eu, elas chegaram em casa tarde e fazendo um barulhão do caralho. E eu tenho sono leve, sabe? Quer dizer, foi a terceira vez naquele mês... E eu tenho que trabalhar, não tenho?! Um homem tem limites, não acha?!?
-Ehr... Eu... Tchau!
-Hahaha... Vai logo, garoto... Some daqui...


-Ah, mais um "quero ser zé pequeno". Teu pato morreu semana passada, mané...

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(Hoje, dia 13, é aniversário do Boca. O rapaz fez 18. Já preparem uma cela acolchoada pro garoto... Feliz Aniversário, Boca!)

terça-feira, 6 de outubro de 2009 Coisas Sem Sentido

Aqui vai uma série de perguntas em que nos momentos etílicos fico me perguntando, perguntando aos outros e enchendo o saco da gurizada que me dá conversa sobre essas questões filosóficas demais, e eu fico prolongando.


Porque sempre morrer para salvar alguém é a opção mais bonita na maioria das situações criticas?

Isso é ridículo, tá certo que é um gesto de extremo sacrifício, mas também ninguém vai lembrar muito de ti depois de morto. Virar mártir é para os bobos e egocêntricos.


Porque sexo proibido é mais gostoso?

Existe toda aquela excitação de momento, a adrenalina disparando e o medo de ser pego no ato; pura bobagem. Sexo é ótimo a qualquer momento, mas quando é proibido as chances de dar tudo errado são maiores e acredite, elas dão.
(entendeu o trocadilho no final, hã hã?)


Porque essa coisa de “eu nasci no tempo errado” e venerar os ídolos do passado?

Coisa de gente com medo de experimentar o novo, alem de não ter apego pelo seu tempo, o agora. Saudosismo é coisa de gente medrosa. Pense diferente, inove e torne-se um ídolo do futuro.


Aprendemos alguma coisa na escola?

Não. Só a seguir velhas ideologias. Nem os professores têm certeza plena do que estão ensinando. O que está certo hoje pode (e deve) ser obsoleto no futuro.


Para que serve a moda?

Serve para suprir os estímulos que sofremos pelos meios de comunicação, que são controlados pelas grandes corporações, estas pertencentes aos controlam os midiáticos, e assim o círculo vai se completando. E você, com cara de bobo, olhando aquelas mulheres magérrimas e sem bunda usando um bando que roupa feia pra caralho.


Pra onde nós vamos depois de morrer?

Primeiro pro necrotério sofrer uma autopsia, depois o velório e finalmente o cemitério da sua cidade natal.


Porque o cachorro entrou na igreja?
Porque a porta estava aberta.


Porque os pais dos nossos amigos são sempre melhores que os nossos, mas melhores que nossos avós não há?

Porque o convívio com os pais de nossos amigos é sempre breve, e de cima todo mundo parece ser legal, o problema é quando se conhece melhor as pessoas. Já em relação aos avós é parecido em relação ao primeiro caso, mas existe uma questão mais humana ainda, que é de aproveitar o tempo com eles, já que são mais velhos e vão morrer mais cedo do que você gostaria (claro que ninguém gostaria dúh)

Porque temos certeza sobre os dogmas da sociedade atual e que segui-los é o melhor modo de viver?

Isso é coisa que sociólogo bundão colocou na sua cabeça, mané. Vive a tua vida como tu bem quizer, basta não ferir as idéias de outros indivíduos que ta tudo beleza.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009 - Não seja lascivo Johnny


- Não seja lascivo Johnny...
- Porque lascivo? O que é lascivo?
- Err... não sei bem ao certo o que é isso, só achei que ia ficar bonito na frase.

(...)
- Mas como eu te dizia (uma pausa caótica cai sobre a conversa, pessoas tensas procurando o que falar) Iaí, tem visto a velha turma?
- Que velha turma? A do bairro?
- É, esses mesmo. Rogério, o Porquinho, o Pancho...
- Hum. Vi sim.
- E...? O que me conta de novo?
- As pessoas mudam bastante, isso eu tenho certeza.
- Tá mas o que mudou. Toda a velha turma tá casada né? Esses dias eu encontrei o Pancho no cinema, tava com um amigo, tava estranho sabe. Não entendi muito a dele.
- Pois é. Ele tava casado.
- Aham, eu fiquei sabendo. Casou com a Claudia, que tinha aquele super apê na Independência, ô galo velho! Aquele se deu bem.
- É, mas não deu muito certo. A mulher dele pegou ele no flagra num motel no centro.
- Putz grila! Mas também o Pancho nunca foi flor de cheirar com pouca venta... Quem era a outra?
- Não havia outra.
- Como assim?
- Sabe o amigo que tava com ele no cinema? Eles não são apenas amigos...
- Não creio nisso! Quer dizer que... os dois...
- Isso mesmo. Brincam de esconder o salame.
- Onde esse mundo vai parar?
- Eu que o diga... Isso é mesmo necessário?
- Eu estou tentando facilitar as coisas. Fica mais fácil pra fazer meu trabalho, sabe.
- Sei, entendo.
(...)
- E o que tu me diz desse governo ai? Uma roubalheira, não?
- Defina roubalheira pra mim, porque tu tá com uma faca na mão sabe, apontando pra mim, se tu não ta me roubando o que tu estaria fazendo? Tentando passar manteiga na minha cara talvez?
- Ah não vamos tornar isso pessoal Johnny Boy. É só o que eu faço da vida. Espero que tu entenda sabe.
- Ah claro! Entendo perfeitamente o meu amigo de infância celebrando os velhos tempos, com um assalto na frente da minha casa. O que você espera, que eu te convide pra entrar pra tomar um chá com biscoitos?
- Não seria má idéia sabe (sic).
- Eu estava sendo irônico! Argh.
- Não seja lascivo de novo Johnny. Se você não tivesse me reconhecido eu teria só pego a tua carteira e caído fora. Agora tu aprendeu a lição.
- Qual lição? Suspeitar de gente usando toca ninja numa noite de verão?
- Não. Nada de momentos nostálgicos, é sempre uma tragédia. Mas é uma pena que eu não te assaltei ali no bar da esquina,aí nóis podia tomar um chopps.
- Prefiro me arriscar e comer um pastel na rodoviária a ter a tua companhia de novo.
(...)
- Não vejo como nos despedirmos então eu vou fazer o procedimento praxe com meus clientes...
- Tu quer dizer vitimas, né?
- Calado. Err... vira aí e conta até dez. Se tu me seguir eu te... hum... eu te faço alguma coisa com essa faca!
- Tipo esfaquear?
- É, isso serve.
- Interessante.
- O que é interessante? Eu te esfaquear? Eu, particularmente não gostaria de fazer isso porque...
- Não, não é nada disso.
- Então qual é o problema?
- Eu vou falar com a tua mãe. Sobre isso tudo.
- Epa! Como assim? Tu tá trapaceando. Tu nunca faria isso.
- Ah faria sim. Já fiz antes. Aquela vez com a história de fazer bolheadeiras e tocar nos fios de alta tensão. Fui eu que contei pra tua mãe. Euzito.
- Eu sabia! Seu filho da puta! Sempre soube o quão baixo tu era.
- Sim, sou vil, a ponto de hoje tá assaltando as pessoas na rua... Não, perai, esse é tu. Me esqueci.
- Rá! Sempre gracioso, fazendo piadas para relaxar. Ah como somos bobos não é verdade? Vamos esquecer tudo isso, ok? Eu prometo não assaltar mais você...
- Isso foi exatamente o que o advogado falou na ultima vez...
- ...Vamos voltar aquela velha “tchurma”...
- Você poderia ao menos devolver os meus documentos né. Vai ser uma baita mão tirar uma 2ª via de tudo de novo.
- ...Combinar uma churrascada! Isso! Sim Sim! Um churrasco! – Eu sou realmente um gênio, rá.
- Ta ok. Mas primeiro você poderia me emprestar uma grana. Eu fui assaltado por um amigo de longa data, sabe?
- Haha, você acha que sou tolo? Não seja lascivo meu velho Johnny.
 
 
 

sábado, 12 de setembro de 2009 Química dos da Bronha

Sim... eu voltei a escrever algo, como o último texto, digamos, não foi do meu agrado, espero agora agrada-los com um belo poema, que virou moda nos ultimos post's.

Química dos da Bronha

Assim jás, aqui Bergman dizia
"Sem dinheiro, não Metil Amina",
Mas para azia, digamos, que eu curto
Um pouco de Anfetamina.

Para os pobres tenho a solução,
Sem-se a revista estão,
Basta correr para os Aldeídos
HCHO - Metanal e seus sonhos serão construídos.

Metanamina foi a sugestão,
Não disseram qual era a preferencia
Metanoato da metíl(d)a,
E acabo com a "divergência".

Saio comemorando,
Trimeti(l)-amina,
Façam como eu já dizia
Metano-sul(fornico)
E a aula de química como todos dizem,
Fica uma baita de uma put..ia.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009 De todas as coisas que eu perdi e sinto mais falta, uma delas é minha mente

Sou um ser mundano, sou devasso
Criado na Forja do Homem
Feito num elo de pecado e aço.

Eu te quero toda, do meu âmago
Mas se não posso te ter é uma pena
Quisera os deuses, somente um afago
Fumo um cigarro, tomo um copo de trago, e assim faço esse poema.

E assim passam os meus dias, todos iguais.
Sei que um gole não prenche os espaços
Muito menos, sei quantos serão os maços
Mas sei também que o coração que bate não é de aço
E que tudo que tu me pedires, sem exitar, eu faço.



Toda minha vida, triste e vazia
Escolher entre você e a bebida
Penso logo nela, aquela vadia
As duas me trazem igual alegria.

No momento da sua despedida
Vou tomar apenas uma batida,
Não será amanha, será agora
Pra não lembrar que tu foste embora
E junto levaste o meu coração.

Longe dos olhos, meu coração não chora
Quanto maior a distância menos a sofrer
Sofrendo a toda noite, a toda hora
Me afogar em lagrimas num copo a beber.

domingo, 6 de setembro de 2009 O real significado das palavras

Vai aqui uma lista das palavras, expressões e demais conjuntos de idéias que estão muito na moda, todo mundo usa, mas ninguém sabe realmente oque significa aquela “coisa maneira” que o seu amigo metido a besta fica falando.




Cult – expressão do inglês que quer dizer velho, demorado e entediante.
O que muita gente nem imagina é que a palavra, na língua chinesa, é um sinônimo de sanduíche de nata de leite de Iaque com mel. É por isso que ninguém na China aceita ser chamado de Cult.

Blasé – do francês quer dizer: eu adoro isso, mas não dou o meu braço a torcer porque me acho superior e quero demonstrar isso.
Há ainda aquelas pessoas que dizem que adoram o que é blasé, mas esses são os que, de fato, não curtem mesmo.

Proto – prefixo que do grego dá uma ideia de primeiro, recém.
Exemplo: - Ei garota, eu tenho um proto-bilau.
Não faço ideia da onde o Caio tirou essa.

Poser – expressão do inglês. Significa que alguma coisa ou pessoa se mostra em excesso sem um motivo aparente. Uma necessidade em aparecer, ou “posar”.
Outras apenas criam blogs e criticam o estilo dos outros.

Pseudo – prefixo grego para algo ínfimo, que não chega a ser algo concreto. Que tem a intenção de ser, mas não o é.
Exemplo: - Saca só essa banda, cara. Eles tocam um electro-new-rave-shit-rock! É do caralho!
Se quiser xingar alguém, diga-lhe que ele possui um Pseudo+(genitália).

Démodé - do francês: Fora de moda. Mas que daqui a uma semana todo mundo vai voltar a gostar.
Como os tênis Nike de cano longo, os discos de Vinil e o seriado "Um Maluco No Pedaço".

Hype - gíria inglesa da palavra hyperbole. Significa: Excessiva publicidade em torno de uma ideia, pessoa ou produto. Aquela coisa que passa uma vez na TV e fica martelando dias e dias na porra da sua cabeça.
A Tec Pix, filmes baseados em livros de romance adolescente, Sarney, Globo x Universal (a Igreja, não a produtora), o Twitter da Nair Bello e qualquer outra coisa que geralmente se usa para iniciar uma conversa com quem você não conhece.

Déjà vu - é uma expressão francesa. Usado em qualquer momento de pane do cerebral.
Na verdade, as pessoas que dizem isso só querem uma maneira mais branda de dizer: "Eu estive aqui semana passada, mas estava muito bêbado pra lembrar exatamente o que fiz."

Mainstream – palavra inglesa. Denota algo que está em foco nos dias atuais e é produto de consumo pelas grandes massas. Gente Indie não faz nada que seja Mainstream, isso às claras.
E outra coisa: Sílvio Santos É Mainstream. Não importa o que diga o Roque.

Vintage – vem do inglês. Significa algo que se encaixe nos padrões de comportamento da época da sua querida vovó, velho pra caralho (ex. anos 50) ou apenas que sua queridinha mamãe usou na sua juventude em meio a toda aquela erva da boa (anos 70).
Obs.: Nos 60’s eram só hippies, que usavam colares de contas e não deixaram nenhum traço marcante na nossa cultura, afinal das contas, tudo que eles faziam era fumar um e ficar “à vontade”.
Outra coisa: esta expressão já está Cult. Experimente chamar um "Underground" de "Vintage" e você será taxado "Démodézinho de merda".

Flamboyant - do francês, é uma espécie arbórea e também algo muito espalhafatoso. Significa "hey, olhe para mim mona! eu estou aqui benhê, ui!

Underground - O pessoalzinho de estilo mais tímido, mas nem por isso menos incisivo. O tipo que quando estavam na escola, eram rebeldes e achavam todo mundo idiota, e seu maior sonho era encontrar alguém que julgasse estar à altura das suas idéias, para juntos poderem discutir coisas como: "o fim de boas bandas que não se venderam", ou: "programas de tevê revolucionários que não vingaram". E, é claro, para que um concorde quando o outro disser: "Nossa, todo mundo aqui é idiota. Eles não sabem o que é música/filme/literatura de verdade". E depois se explicam e se justificam.
Ou aquelas bandas de nomes estranhos que insistem em não fazer sucesso por quererem tocar apenas para o público que acham que as entende. O negócio é que no final ninguém se entende e essas pessoas vão ser esquecidas, suas memórias varridas da história e as futuras gerações se perguntarão: "O vovô era o idiota ou as outras 6 bilhões e meio de pessoas que não concordavam com ele é que eram?"

Indie - O estilo musical moderno das pessoas que não se acostumaram com a fama. Ou que nunca vivenciaram ela. Aquele que faz você ter que chegar aos confins da internet, procurando por músicas de bandas das quais nenhum dos seus conhecidos jamais ouviu falar, por que eles insistem em não assinar nenhum contrato com gravadoras. São uma variação de músicos underground, só que mais alegres. Alguns vão me xingar por essa. Ou pelo menos aqueles que lêem o que se escreve por aqui. É, vocês dois.

Vegan – Do inglês significa: gente chata que não têm hábitos alimentares vegetarianos por suporem que os animais têm sentimentos e assim não devem ser devorados.
Nada a ver com o Vega, o vilão mais estiloso do Street Fighter.

terça-feira, 1 de setembro de 2009 Vergonha

- Querida, eu vou tomar um banho.
- O sabão não vai lavar a vergonha.
- Hã, Como? Eu não... ah!
- Isso mesmo. Eu sei o que você tem feito, Edgar. Sei tudinho.
- Como assim você sabe? Para começar, o que eu tenho feito? - Afinal das contas nem sei do que estou sendo acusado!
- Ah, Por favor né! Não se faça de desentendido! Já não lhe basta me enganar durante todos estes anos? Já não lhe satisfaz isso?
- Você está ficando louca, é, só pode ser isso. Pronto, era só isso que me faltava. Você ficand...
- Não me chame de louca não. Louca é a senhora sua mãe.
- ...Você ainda não me disse qual o motivo do escarcéu, queridinha...
- Pois muito bem. Eu quero saber, qual é o motivo, de quem é aquelas marcas de batom no seu terno. Explique-se. Quem é a sirigaita que andou te deixando marca?
- Foi você.
- Vai a merda. Você acha que eu to brincando? Tu acha que eu sou palhaça, é isso? Fale logo seu besta, antes que eu parta a sua cara.
- Não estou brincando. Foi você mesma. Pense bem, a ultima vez em que eu usei aquele terno foi no aniversario de casamento da sua prima Silvinha. Depois nós voltamos e demos uma brincadinha, se lembra? Além disso, eu detesto usar aquele terno, ele fica me pinicando, dá coceira. Detesto.
- Uhum. Sei bem.
- Agora que já está tudo esclarecido, posso ir tomar meu banho, hein?
- É pode sim. Eu vou dormir, amanhã tenho que acordar cedo. Vou no cirurgião plástico, estava pensando, preciso tirar essa linhas de expressão do rosto...
- ...Cirurgia não vai remover as marcas.
- O que você disse!? Repita se você é homem suficiente.
- Você ouviu na primeira vez.
- Canalha!
- Velha!

sexta-feira, 14 de agosto de 2009 Poema do Paulo

Saudosista, niilista, preguiça
Ateu, apogeu, filisteu
surpreso quando leu numa revista
que o mais tenso filósofo, sou eu

Se numa partida de taco
sobra-lhe graça e esquivez,
enxágua-lhe o sovaco
e o suor escorre pela alva tez

Desencorajado nos anos de infância
Um culto só, em meio à ignorância
A cidade de merda em que uma vez nasceu
Lá no litoral, onde mora algum primo seu

A revolução chegou de fato com a sua chegada
Pra começar, tapou os buraco da estrada
Usando uma escova e um balde d'água
Lavou muros e as paredes lá pichadas

Varreu a areia da praia,
contruiu algumas dunas
Mas fez isso num piscar;
Voltou a tempo de fazer as unhas

Leva a vida na labuta árdua
Mas não esquece de sorrir da dor;
Aquece o coração dos outros
Com o toque do seu desfibrilador

De grão em grão,
A galinha enche o papo
De verso em verso,
Essa estrofe enche o saco

Água mole em pedra dura,
tanto bate até que fura.
(Estes versos foram censurados. Mas dou-lhes uma dica:
use um trocadilho, porque estas rimas não são ricas)

Em meio aos seus miolos,
teias e morcegos, pequenos dejetos animais
Mostrando que por debaixo dos cabelos
Seu cérebro, já não usa mais

terça-feira, 4 de agosto de 2009 Qual é o problema da amnésia?

"Eu estava fazendo qualquer coisa, e então, seja lá qual foi o motivo, esqueci por que fazia aquilo. Aí pensei: eu nunca pensei nisso. Eu fazia isso sempre, mas só agora eu parei pra pensar se aquilo era realmente necessário para a minha vida.(...)"

-Certamente você já ouviu algum relato assim... Viu? esse é um dos problemas da amnésia, a pessoa perde a consciência até do por que executa uma tarefa mundana e--NÃO? Nada assim nunca? Mesmo, tem certeza? É que eu ia falar sobre... Ah, então deixa pra próxima, ok? Aham. Aham. A gente se fala, tchau. Abraço. Sim, sim. Tudo bem. Ok, vou desligar agora, tá bom? Tá, tá. Tchau.
Clic.
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Eu estava escovando qualquer dente e, de repente, seja lá qual foi o motivo, pensei na seguinte cena:
-Por favor, poderia me ajudar aqui? Obrigado. (Um escultor, artista plástico, algo assim.)
-Sim, senhor, disponha. (Alguém com aparência de velho, com a barba branca, um chapéu-côco e óculos de lentes redondas.)
-Está ficando bonito, hã? (Limpando o suor da testa.)
-É, é mesmo... Quando ficar pronto então... Fiu! Mas... Por que mesmo você está construindo esta estátua? (esgueirando-se atrás do artista plástico. Com uma chave-inglesa em riste , na sala de estar, o Cel. Mostarda.)
-É que--Páw!... (depois de um tempo, levanta com dificuldade.)
-(roubando a carteira do artista. Acha apenas uns trocados.) Seu maluco! Todos vocês! Malucos!(e sai correndo)

O que acontece a seguir é que o artista perde a memória. Vendo-se sujo de argila e a peça na sua frente, ele assimila que estava esculpindo-a. Algum tempo depois, alguém muito rico a compra. Quando um grupo de repórteres chega em sua casa e vêem aquela bela obra retorcida, o perguntam o que a aquilo significa. Ele diz que é "a situação abstrata da psique humana em confusão absoluta". O repórter pergunta se quem o fez estava só bêbado e tinha esquecido completamente por que tinha esculpido aquilo. O ricaço pára pra pensar e diz: "Porra! Então é isso!" Aí eles voltam de carro até o local onde o escultor estava e, de fato ele ainda estava lá. O Ricaço pega e atira a escultura na cabeça do homem, que desfalece por alguns instantes.

-Quem sou eu? (ainda no chão, para um adolescente de 17 anos que não parece ser de confiança)
-Você? Hum...(com um sorriso sacana no rosto) Seu nome é José de Arimatéia. Você é corno, o filho da sua mulher não é seu.
-Ah! Droga! Maldita!
-Ah, e mais uma coisa!
-O que é?
-Você é dançarino de strip tease, e trabalha naquela boate no final da rua. Você também--
-O quê?!?
-Quer a informação ou não? Caramba!
-(quase chorando, decepcionado, sentindo como tivesse recém reencarnado e tinha esperanças de voltar como algum nobre ricaço.) Droga! Tudo bem, abra o bico, rapaz!
-Hmm... Você também faz programas quando não está lá. Eu sei disso porque me disseram. E você não conhece minha mãe.
-EU FAÇO O QUÊ?! Caramba, o que eu-- Como é que-- Por que eu nunca... Droga, acho melhor parar de resmungar e voltar para o trabalho, então. Até mais garoto. Desculpe pelo seu tempo. (se vira e começa a andar na direção de uma casa noturna.)
-Foi um prazer ajudá-lo, panaca...(caminhando para o outro lado)
-Como é que é?
-Nada nada, só disse que pra não se perder, você deveria seguir aquela placa...(E sai, definitivamente)
-Hmm. Algo não me cheira bem aqui. Mas que posso fazer? Sou apenas mais uma vítima do estrangulamento dos menos-capacitados para posições administrativas em detrimento do desenvolvimento econômico da sociedade moderna, sou um fruto da luta de classes que marginaliza pessoas e discrimina-as por suas ocupações. Putzalavida... Tomara que na próxima encarnação eu não nasça socialista. Aí estaria no fundo do poço de vez.

Aproveitadores fanfarrões.
Esse é outro problema da amnésia

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Punheta

Quando a vejo, uma explosão
Em minha calça, uma festa.
Não há chance alguma, ela atesta
D'eu estar nela, em seu coração.

- Foi só umazinha - ela diz.
Mas por entre colchas & coxas
Em meio a ais e poxas, penso eu:
- Com ela, queira eu, poder ser feliz.

De seu sorriso de Vênus e boca macia
De uma volúpia majestosa
Daquela fabulosa goza
Donde o som saía, daquela que gemia.

De que me vale, suspirar em vão
Na noite fria de inverno, sozinho
Me perder, com ela no inferno
Quando aqui, meu consolo é minha própria mão.

quarta-feira, 29 de julho de 2009 Causos de um Matador de Aluguel Sexagenário

Eu sou Carlos Roberto Ananías Sabiá Brejo Lotado, vulgo "Carlinhos Cano-Louco", sou matador de aluguel. Se você é daqueles que acham que vida de um mercenário é fácil, nananinanão, compadre. Você tá um tantinho desinformado sabe... A nossa vida é difícil; a nossa vida é arriscada; A nossa vida é sofrida, e te digo como! Mas eu vou explanando os meus motivos no decorrer desse EMAIL que eu mando já já. Na verdade quando você receber, eu já mandei, e vice-versa etc.

Hoje estou velho, trêmulo e broxa, - Quer dizer, broxa não; - e o meu olho esquerdo não gira no mesmo sentido do direito e eu levei um tiro nos culotes que chegou a furar minha ceroula à prova de balas e passou direto pela minha coxa, de fora-a-fora, e tenho que usar essa bengala, que na verdade é uma das pernas da minha mesinha, eu cortei e lixei bonito e até ficou legal.

Me aposentei há 3 anos, quando eu perdi o ser que dava sentido aos meus atos mais loucos; lembro de quando dei o tiro e quando gritei "CACETE matei o Rex!!!" Amava aquele cachorro. Tanto que dei o mesmo nome pros outros sete por causa dele. Amava a mania que ele tinha de pular em cima dos "trabalhos", pena que acabei matando os outros do mesmo jeito, até que comprei um gato, que o rapaz da loja disse que é mais calminho e tal. Mas acho que por causa disso mesmo, quando eu gritei "PULA BICHANO!!!" ele não fez nada, só miou, olhou pra mim e eu mandei ele atacar de novo: "CACETE!! PULA BICHANO!!!" e o gato nada. Aí o "trabalho" acordou, abriu os olhos, calcula que o homem tinha um 38 embaixo do travesseiro, ele pegou e deu um pulo da cama, puxou o trabuco e meteu bala no bichano. Eu aproveitei que o rapaz se distraiu e o chumbo comeu solto dentro daquele quarto... Não compro mais gato nunca na vida, e fica a dica pro senhor ou senhora.

(se você não conseguiu entender, chamo as vítimas de "trabalho", que não é tão feio heheuhe)

O pior da velhice é que o cara não sobe o bagulim e olha que ten um monte de mulher que se amarra num cara de revólv

(depois me explica como apaga que a parte de antes eu não queria mandar tudo)

Olha meu neto ta aqui e ele disse que depois quando eu quiser mandar uma outra mensagem é pra pedir pra ele que ele me escreve. As letrinhas tão muito pequenas e eu também não lembro mais de como se usa o computador então vai ficar mais fácil da próxima vez.

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sexta-feira, 17 de julho de 2009 Devaneios do Homem De 30 Anos

Pois então, que criatura é o homem de trinta anos, não? Todos debatem sobre as mulheres de Balzac, mas fica em questão esse que um dos seres mais míticos da nossa cultura.
Em geral quando as pessoas ao chegam em uma certa idade contraem matrimônio, constituem família, filhos, arrumam emprego e vivem felizes para sempre naquela monotonia para sempre. Fim. Mas e o que sobra para aqueles que abdicam de seguir esses, que são padrões os comportamento considerados ideais pelos olhos de nossa sociedade? Oras bolas! Diversão ilimitada e uma vida cheia de auto-descobrimento. Vamos analisar uma dos maiores exemplos de homem de 30 anos: O tiozão solteiro. Sim, esse folclórico ser que habita os churrascos em família nas tardes ensolaradas de domingo. Talvez esse que é símbolo máximo e mais visível no nosso cotidiano. Talvez não haja palavras pra descrever o comportamento de tão destoante membro familiar. Há apenas uma certeza: ele vai sacanear em algum ponto do encontro familiar, é batata. Em geral existem dois tipos de tios trintões: O bem-sucedido e tambem aquele que ainda mora com a sua avó, vê o Domingão do Faustão e acha graça.

O bem-sucedido: Tem um bom emprego, é engraçado e culto, sabe lhe dar com as situações difíceis com extrema facilidade e, sempre, sempre está bem acompanhado. Nos churrascos aparece sempre destoando dos demais, chegando com seu carro esporte do ano, sempre bebendo um bom single malt sem gelo, num gole só. Ah, como você quer ser aquele homem, é o ícone máximo de como se portar, sempre bem colocado com suas piadas inteligentes.
O tiozão: O mais comum dos “tios”. Aquele que quando chega, seu pai olha de lado, suspira e fala:

- Merda... Chegou aquele filho da puta.

Chega já bêbado, com a barba mal feita, fazendo grande alarde, destoando-se dos demais, e talvez fazendo o mais típico dos comportamentos: trocadilhos de duplo sentido recheados de picardia.

- Eaí Nelson, você gosta de verdura?

Vamos concordar, esse tipo de piada é engraçada, mas vai se desgastando depois que é contada pela mesma pessoa pela 239ª vez, e como se não bastasse você ter de ouvir piada você tambem tem rir para não ser o que seu tio é – um verdadeiro pé-no-saco.
Depois de passar o sábado todo no bar da esquina, bebendo com seus amigos etílicos, todos comendo churrasco de acém bebendo cerveja Cintra em copo americano e conversando sobre futebol. Depois de uma tarde fabulosa ele “se arruma” pra ir catar uma gatas, por algum clube decadente no subúrbio da cidade. A noite normalmente acaba ele sozinho ligando pro serviço de tele-sexo ou vendo um pornô de 5ª categoria; Isso tudo quando ele não pede pelo telefone os serviços de uma “acompanhante”, é claro.

Não pense que existem apenas estes tipos de trintões, existem outras variantes, como os padres, eremitas e serial killers a ponto de bala. A moral da historia é a seguinte: se você já chegou na casa do trinta e não tem família, casa & grana se preocupe, pois o tempo passa rápido, as opções vão se afunilando e ficar estagnado não é bom, porque afinal das contas, você quer ficar que nem o seu tio engraçadão?





- Acorda aí sobrinho!

segunda-feira, 6 de julho de 2009 Pânico no Condomínio - Dia 2

Cedo demais. Ou, tarde. Qualquer uma, se for julgar sua chegada às 5 da manhã. Ou da noite. Está escuro, caramba! E você não está em condições de julgar nada pelo que vê: aquele canhão brabo que você pegou ("atacou" seria o termo mais cabível, dadas as circunstâncias...) parecia, aos seus olhos, a coisinha mais "graziossa".

A última coisa que você esperaria de um fim-de-uma-festa sublime é algum desafeto seu encontrá-lo naquele estado, que mais condizia com o de um alce que acabou de ser atropelado por um caminhão-pipa carregado com milhares de litros de caipirinha de morango com vodka e doses de tequila com limão e sal, enquanto tentava copular com um monstro-lhama de orelhas de elefante e tetas de uma leiteira campeã. Mas, bem... A vida tem disso. Você olha pra porta dele e nesse mesmo momento, percebe que algo está errado. Então, com toda sua plena desenvoltura balangandã, você corre pro jardimzinho e vomita aquela "erradez". Você se sente um tantinho assim de culpa pela imprudência para com a sua vizinha, embora ela nunca vai saber porque as petúnias daquele lugar nascem tão feias. Você, sente-se melhor. Mas é por pouco tempo.

Lá está ele, aquele desprezível. As mãos na cintura, os cotovelos arqueados, o cigarro mordido no canto da boca boca, o pijama de cachorrinhos... Aquela visão do desejo por autoridade, de ser o exemplo de intelectual conservador que só quer o bem de todos, mas sem fazer muitos sacrifícios; que se importa com os bons costumes, de moral rígida e intransigente. Humpf. E além de ter um bafão, né? Que o cigarro não ajuda...

Em matéria de mal-estar, sua pose de superioridade rivaliza apenas com a ânsia de vômito que dá depois de se por de pé, quando se bebe sentado. E, por falar nisso, aí está ela:

-Blééargh! Ah, e esse pastel tava tão bom...
(Você lembra da voz lilás, aguda e irritante, com aquela aspereza de quem traga alguns maços por semana) (sem falar na pretensão de ser sarcástico que é característica de todas as pessoas que aprenderam tudo o que saber sobre humor com a mamãe.) (E quando ele vira os olhos para o lado? Como se dissesse: "Descobrir que o pacote de pipocas que eu estava comendo tinha uma barata dentro seria deveras mais prazeroso do que conversar com vocês, analfabetos funcionais leitores de lixo literário. Desliguem a internet! Proíbam os malditos blogs! Leiam logo um livro de verdade, seu bando de desavergonhados liberais!.") (Aí, então, depois de um pigarro daqueles "ai ui, como sou superior", ele abre a boca:) Hmm... Muito bem, senhor Regurgitador. Acho que as próximas petúnias da senhora Ofélia irão crescer grotescamente feias!
-Ah, vá plantar batata!... hahahahehe... (suspiro) Batatas, aiai droga... Blééargh!
Depois dessa gorfada, você se sente melhor, como se junto com o recheio do pastelinho tivesse ido junto alguma parte do álcool
-Então... Voltando de uma festa bêbado, é? Francamente! Não condiz com a imagem de um presidente da associação do condomínio.
-Presidente de quê?
-Da associação. Ah, você não veio na reunião de sábado à noite.
-Mas eu pensei que se faltasse bastante, iriam me esquecer completamente...
-Está louco? Com toda essa sua mania de bebedeira e chamar amigos e amigas que se comunicam aos berreiros? Tentamos ignoram às vezes, mas se bem que alguma hora dessas... Veja bem, vamos ter que levar você pra assinar uma ata e te entregar... Um aviso! E pela caixa de correio...
-Um aviso? Nossa, puxa vida, hein? Vocês não estão pra brincadeiras mesmo...
Ah, você é tão sagaz!
-Hmpf... Alguns de nós até detestariam lançar mão de um recurso tão extremo, ainda mais contra qualquer um que mantenha as taxas do condomínio em dia e que inclusive contribui para o Natal das Crianças -Por falar nisso, o pai do garoto do 28 mandou dizer que o menino quebrou a cafeteira andando com o skate que você doou; o que, segundo as regras, faz a culpa ser sua. Ele quer falar com você à tarde.- Mas é sério, não estou aqui pra ser o "carrasco", ou o "dedo-duro" ou "x-9", sei lá o que essa nova geração anda falando...
-...
-Vai vomitar de novo, não é?
-Não, nada disso... É que eu meio que... Quer dizer, acho que... Eu parei de ouvir na parte do Natal das Crianças... Você mudou de assunto, e não me falou nada. Depois, voltou atrás, do nada, e queria que eu... Eu... Droga, eu me perdi de novo.
-... Bom, eu havia dito que o pai do garoto do vinte e oi--
-mmMMm... Blééargh!
-Jesus Cristo!
-Amém!
-Quase nas alpargatas, rapaz! Por um triz... Eu paguei caro por elas.
-Hmm... Diz aí, semana passada me disseram que eu era presidente da associação, mas até agora, não recebi nada, nem desonto na taxa do--
-Eu acabei de te dizer isso.
-O quê?
-Foi agora, eu acabei de te dizer isso.
-Não, o que foi que tu me falou agora?
-... Você ser presidente da associação. E, na verdade, ninguém queria mesmo você. Só que o único candidato era bem pior e, como nenhum de nós queria a vaga, o antigo presidente te candidatou, nós só votamos em você por falta de opção. Quer dizer, ninguém duvida das suas capacidades de se sair bem, mas... Convenhamos, não é?
-Eu... Eu não entendi metade do que o senhor falou. E não precisa tentar me explicar. Mas quem era o outro candidato?
-O outro?
Ele faz uma pausa. Força os maxilares, mostrando os dentes como se uma dor lancinante aparecesse do nada enquanto ele pensa num adjetivo para descrever o outro candidato. Você não tem idéia do que irá sair da sua boca. Para sua surpresa, ele não fala nada. Mas, depois de uma longa inspiração:
-O... Rapaz, do 34.
-...
-Você vai vomitar de novo agora, não vai?
-...
-...
-... Na verdade, eu... Eu acho que me perdi. Eu juro que me lembro de ter saído de casa à noite, mas... Depois disso, é tudo um branco... E a dor! Ah, a dor... Que cheiro é esse? Como eu vim parar aqui? Quer saber? Eu acho que fui abduzido. Rápido! Me ajude a levantar, que eu quero chamar as autoridades responsáveis. Vamos! Ei! Aonde você vai? Volte aqui, eu não consigo ficar de pé... Eu acho que vou--Blééargh!

-Ah, peraí... Acho que to lembrando agora...



Fim do dia 2

sexta-feira, 3 de julho de 2009 João Jubão e Juca Bala: Epílogo dos ligamentos.

Era como se a vida estivesse sutilmente sendo sugada, como se o que era engraçado estivesse tornando-se repetitivo, assim pensava Juca acá com seus botões. Não aguentava mais pensar, os 2min acabaram com seu poderoso cérebro, fazendo com que ele fosse diretamente em direção ao seu universo paralelo. Sua cama.

João que estava na cozinha, ficando de fora da suposta cena, saí de lá com um pote de pepinos em conserva lembrando-se de suas aulas de história, Pepino, o Breve... Que foi a única coisa que lhe chamou atenção na história, logo que surgiu o nome no ar, João levantou a cabeça deitada sobre seus braços, limpou sua boca retirando cuidadosamente o liquído que gotejava de sua gengiva e deu atenção para as piadas que surgiam em sua mente, deixando de lado a aula nem um pouco importante sobre a Alta idade média... Mas agora ele apenas limpava a baba que caia sobre o pote, e deixava as coisas mais complicadas para sua pessoa.

Saíndo do transe impertinente em que estava, João sai a busca de Juca, que some misteriosamente. Olha para um lado, cisca para o outro e seu olho dispara para a direção em que Juca está protelando seus afazeres. Deitado no seu pequeno universo paralelo.

Como um Dejá-vu as coisas surgem na mente de João. Sabia que ali, logo, ante, perante, era o momento de sua deixa. João navega com seu pote de pepino, que não era seu, mas a vida não é um morango para todos. Saíndo do condomínio João pecha-se com a Síndica, que ameaça-lhe dizendo:
-- Vou castrar suas bolas Acéfalo Perneta! - João revida.
-- Pode vir, farei tranças com os cabelos da sua vir--. - Antes que pudesse terminar a frase João é pego por vulto tremendamente veloz, que lhe acerta diretamente na ponta da orelha. Era Valdecir, marido da Síndica, que não lhe permite terminar a frase absurdamente suja. João sai correndo e dá de joelho no banco que servia de enfeite para o hall de entrada do Edifício - F.U.D.E.U. - Fagocitóse do Último Dia de Erasmo Uivando. Era um nome sugestivo, as pessoas passavam e observavam com caras de deboche e malícia.

Saíndo do lugar, João vai embora lacrimejando, passa pela galeria e vê algumas garotas. João não consegue esconder seu principal motivo de viver - Os biscoitos das Bandeirantes, fininhos com cobertura de granola e chocolate da Negubauer, que sem dúvida é o melhor das marcas mais econômicas.






As bandeirantes que não eram castas e nem algo do gênero, pensaram em completar o dia de João com piadas a respeito de sua anomalia física. O tendão de Aquiles com leve angulo de abertura de 102 graus. Esse defeito lhe rendia algumas humilhações públicas, como a vez em que seus colegas de Línguas Petencostais (sim, Dona Bernadete acredita que seu filho algum dia vá encantar o mundo com seu "dom divino"), fizeram uma brincadeira motivacional em que por um acaso até o professor de 'Dons Extraconjugais' quis participar, depois que João resolveu aplicar uma de suas teses em que José teria sido um dos primeiros a começar a família Obama, mas não vem ao caso... A brincadeira era educativa, todos derrubam João e saltam sobre ele, tudo em um movimento sagaz e sensível ao ponto de apenas torcer seu joelho uma vez.

A princípio era só para ter uma torção em sua vida inteira, mas as bandeirantes não queriam uma história simples, sem emoção ou sem adrenalina. João é o protagonista mesmo, o mocinho, o "Jack Estrupador", o seu Riobaldo, o Dom Quixote, o padre Amaro... Ou quem sabe até o Harry Potter, mas seria um título nobre demais para um pateta que não sabe nem assoviar chupando cana.

João que queria apenas ir para casa comer pão com ketchup, ou apenas sair tranquilo daquele local periogoso e mortal, não conseguiu. Afinal a vida não é a Disney, e ele não é Joseph Climber. A vida lhe pregou mais uma peça. João enquanto corria serelepemente, não viu seu único obstáculo, o mais perigoso de todos - O toquinho. Na hora do maior pique de João, ele não vê o toquinho e no exato momento em que seu pé torto encosta no pedaço de 5m cravado ao chão, seu corpo sutilmente voa. (Sutilmente foi uma irônia).








Era a única coisa que João via! Durante 5h... Aparentava uma morte abstrata, mas nosso herói não teria tanta sorte de apenas apagar, no minimo aconteceria uma morte lenta e dolorosa como a de Saddam, que teve que problemas técnicos com o "Amigo da Corda" que não parava de falar sobre crimes e torturas "صاحب اللحية القبيح ، ويموتون في قاع الجحيم ، وسيجعل من شركة المؤيد للكلب أعطانا شرب.". Foram as palavras mais longas e sinceras que disseram a ele. João teve sorte, quando conseguiu abrir seus adormecidos olhos, viu seu tio Filipino cantando "Menino Jesus" em passos de Jackson.



Para João aquilo tinha sido apenas uma festa de aniversário adiantada, mas ele não tinha idéia do tremendo e horrendo epísódio que suas pernas passaram. Principalmente seu joelho, ou seu antigo.

segunda-feira, 29 de junho de 2009 Sábado no Divã

Eu sentei naquele divã. Tudo muito rústico, mogno para todo o lado. Livros empoeirados Ambiente meio sujo. A principio fiquei com nojo daquelas almofadas cheias de babados, aquele cheiro de ópio no ar, aquele cachimbo ainda fumegava uma fumaça fedorenta. Cinzas que abarrotavam o já cheio cinzeiro, ainda estavam espalhadas por todo canto, como que se as outras pessoas que estiveram por ali tivessem deixado seus restos, seus rastros, suas preocupações e neuroses.

- Você é realmente pode me ajudar?
- Mas é claro, eu me formei em medicina. Está vendo aquele diploma na parede? Nele está escrito que sou médico. Eu posso te ajudar.
- Hum.
- Interessante este seu “hum”...
Logo começou a rabiscar naquele bloco que estava em suas mãos.
- Porque interessante? – disse eu – Oque tem de mais eu falar “hum”?
- Mostra sua insegurança com relação as situações. Você tem feito sexo?
- Err... Sim, eu acho.
- Você acha?
- Qual a relação de sexo com o “hum”? Eu não vejo nada ligado ao meu “hum”.
- É ai que você se engana meu caro, tudo tem carácter sexual.
- Mas o meu problema é outro. Eu não sou inseguro nem coisa nenhuma. O problema é que a minha mãe...
- Complexo de Édipo... Prossiga.
- Como?
- Aqui está o problema. Você é inseguro por causa da sua mãe.
- Caralho. Não é nada disso eu só ia citar uma coisa que ela me disse sobre uma coisa e tu já vai lançando uma coisa nada a ver cara!
- Calma, calma. Você veio aqui para pedir ajuda. Você quer que eu te ajude ou não?
- É, quero sim. Desculpa, não era minha intenção ficar tão exaltado. Normalmente eu não sou assim...
- Você é como, então?
- Eu sou um cara pacífico, sempre prezo pela paz de espírito...
- Você sabe o que é transtorno de humor bipolar? Você é um grande candidato a sofrer desse mal...
- Comoéqueé? Cara... você tá realmente me tirando do sério. Eu não tenho essa porcaria que tu falou coisa nenhuma, eu to é ficando irritado porque tu fica falando que eu tenho um monte de problemas, ao invés de me ajudar. Uau, foi bom falar tudo isso!
- Sei, sei... O senhor é gay?

Nisso tudo, punhos ficam serrados, uma gotícula de suor escorre ao lado do rosto. Uma reação para cima do interlocutor daquelas perguntas era inevitável. Calmamente, respiro fundo e perguntei, como se não houvesse entendido:

- Como?
- Você tem relacionamentos com homens?
- Eu entendi a pergunta na primeira vez, eu quero saber, porque cargas d’água você ta fazendo essa porra de pergunta. Eu por acaso tenho jeito de boiola?
- Isso não vem em questão no momento... Eu apenas preciso saber.
- Porque essa pergunta? O Sr. Está interessado por acaso?
- Eu apenas estou perguntando. Responda se você é ou não, isso pode ser a causa de vários dos seus problemas.
- Não, eu não sou fruta
- Presumo então que você goste de mulheres, certo?
- Sim, e muito.
- Você bebe, fuma ou usa drogas?
- As vezes sim, mas não nessa ordem, obrigatoriamente.

Pois então que o médico olha no relógio, faz sinal que vai levantar-se de sua poltrona, exita, senta novamente e então fala:

- Eu acho que a nossa sessão acabou, por hoje. Eu vou lhe receitar lítio, o senhor já tomou?
- Não, nunca.
- Tudo bem então. Eu vou lhe fazer uma receita.

O médico se levanta então, vai em direção a escrivaninha, remexe alguns papéis e começa a escrever algumas coisas num bloco.
Também me levanto, seguindo-o, aproveito a falta de atenção e pego uma pesado busto empoeirado que estava sobre a lareira. Nisso me vejo precipitando o pesado busto de Minerva sobre a cabeça do pobre médico. Ele tomba. Do topo do corpo escorre o sangue de uma cor rúbia, que se acumula por entre os espaços das tábuas de madeira do chão, encharcando aquele tapete, já bastante carcomido pelas traças. O cheiro de ferro do sangue me vem as narinas. Com afetação aprecio aquele momento e vejo o quão fina é linha entre a vida e a morte. Encho-me êxtase e logo saio da sala, para nunca mais voltar ali.

Talvez ele estivesse certo, talvez eu tivesse todas aquelas coisas que ele me havia dito. Mas o mais provável é que eu seja só um psicopata comum. Acho que ele nunca vai saber ao certo. Provavelmente porque ele está mortinho da silva naquela merda que fede. Entendeu? Eu matei ele, cara. Merda, eu matei o cara. É isso: eu sou um maníaco homicída! - No fim das contas isto tudo serviu para algo, ao menos sei bem qual é o meu problema. Que merda fodida é tudo isso, não?






Chupa essa, Freud.

sexta-feira, 26 de junho de 2009 Michael Jackson morreu. E agora, mortais?

PAULO H.

E então? Acha que esse fato não vai mudar nada na sua vida? Pense de novo, pequeno gafanhoto. Michael Jackson já era. Babaus. Zé fini.

Se ainda estivéssemos nos '80, ou talvez até nos '90, muita gente sentiria uma palpitação irregular só de ler essa frase. Caos na vida social. Aqueles que tinham um LP ou mais, estariam na frente da TV há mais de meia-hora, observando a figura do Bonner, checando se os lábios dele sincronizam com o áudio. As palavras "morto", "Michael" e "Jackson" não teriam sentido na mesma oração, à menos que se tratasse de uma negação. Caos na rede telefônica. A Internet, se estivesse lá, teria ido tomar um cafezinho enquanto a poeira não se assentasse.E quem sabe não estariam no site da multinacional acompanhando minuto à minuto a necrópsia do corpo "... Agora o rim foi tirado e encontraram uma secreção branc-- Hey George, já disse para não comer Xís aqui dent-- piiiii". E ainda existiriam aquelas quatrocentas e vinte e duas mil e duzentas e quatorze fãs #1 que estariam desmaidas, ou desidratadas, ou atônitas, ou... Caos na rede hospitalar.

CAIO

O Rei do Pop esticou as canelas, mas e agora? O Maicou era um alienigena (vide MIB), um cara incrível. Que nem ele só talvez o Elvis e o FabFour, mas uma coisa é certa: você tem uma banda que faz sucesso, que as groupies se matam para pegar aquela sua cueca carimbada, então é bem provável que você morra - sim, como todos nózes - mas uma coisa você com certeza fez: teve uma banda de sucesso. Uau que bonito, não?

Todos amávamos o pequeno Maicou, isso é inegável. E vamos continuar amando, mesmo assim, mesmo que ele gostasse de brincar de médico com garotinhos, morasse num parque de diversões ou usasse aquela luvinha branca nojenta que a Ana Maria Braga usava.

Pelo menos ele não morreu no próprio vômito, né? Afinal quem morre proprio vômito hoje em dia? Ninguem ora bolas. Ninguém!


Coloque aqui o seu nariz


*PS.: Agora, no finalzinho... Pense comigo: Você faz um teste na frente de alguém que pode mudar a sua vida, aparece na TV, ganha fama mundial, vira sex symbol, acumula alguns milhões e prepara-se para a aposentadoria. Aí, de repente, morre. Você imagina que ganhará a primeira página nos jornais e a TV fará programas especiais de última hora e sua imagem estará em cada blog, sites de agências de notícias e milhares de pessoas irão fazer uma marcha até o local do funeral, acompanhando os seus restos mortais. Aí, vem um filhodeumap**a, imbecil, deformado e efeminado muito mais famoso/rico do que você e rouba o mundo. Farrah Fawcett, nós lembramos de você.

sábado, 13 de junho de 2009 Encontro - Parte 2

"-Pode tentar... Escuta, rapaz, é o seguinte: Você está morto."


-O quê?
-É isso aí.
-Mas assim, de repente?
-É... Olha, ninguém pode prever algo assim--
-Mas eu era tenh-- tinha tanta coisa pra fazer, droga...
-Foi o que eu pensei também, rapaz.
-Então o senhor está m-- Quer dizer, você... Você...
-É... Faz umas 3, 4 horas. No meu quarto, ataque do coração.
-Hmm...
-Mas não havia dor, sabe? Só... Frio. E silêncio, muito silêncio. Achei que tinha ficado surdo, ou algo ass--
-Desculpe, mas o senhor não precisa... Sei lá, cumprir uma agenda... Hmm... "Matar tantos homens, mulheres, crianças" até o jantar com Deus?
-Do que está falando, rapaz?

-Escuta, Sr. Nicholson... Você é o anjo da morte ou algo assim?
-Não, não... Que é isso, rapaz! Eu só... Bem, eu realmente não sei porque estou aqui
.
-Deus me quer morto?
-Escuta: Pára com esse negócio. Eu estar aqui deve ser uma daquelas lições que esses malditos querem que aprendamos: "Somos todos humanos, vivemos até onde der."
-Então, é por isso que um ator de Hollywood vem até a minha casa? Pra me ensinar uma porra de lição?! Por que não me mandam o Tom Hanks? O Danny Devito? Por que não a secretária do meu chefe? Eu poderia estar transando enquanto encontro o fim do túnel branco... Mas tenho que ficar aqui conversando com um babaca que não sabe o quê, mas quer me dizer algo!
-Na minha vez foi mais fácil. Olha aqui, rapaz... Não adianta gritar comigo, com Deus, diabo, Krishna ou seja lá qual for esse sacana. Talvez seja cruel, mas agora já foi. Não dá pra pedir pra voltar...
-Você podia ser meu tetravô! Fala assim porque teve uma vida longa e boa! Eu tenho 23 anos! Eu morri sem sair do meu país! Eu não apareci na TV! Não morei com uma garota! Eu passei uma ano estudando 6 horas por dia pra um careca velho e translúcido sentado no meu vaso dizer que nada do que eu fiz valeu à pena!
-...
-Está aí a sua maldita lição!: "Estamos todos na merda e vamos todos pra merda". Todos. Não importa a cor, o sexo, ou se o seu plano médico é mais caro que o meu!
O velho olha pra você como quem diz: "É isso aí." De fato, é o que ele diz em seguida.

-É isso aí.
-É tudo o que tem pra me dizer?
-É. Na verdade, assim que meu vizinho disse isso, eu pisquei e... Bem, apareci aqui.
-Seu vizinho?
-É, ele morreu.
-Vocês... Conversaram também?
-Muito. -E... Sobre o quê? -Carros, mulheres, bebidas... Ele tinha quase a minha idade, sabe? Nós quase sempre concordávamos em tudo. -Não falaram nada de morte... Religião... O sentido disso tudo? Quero dizer... A vida? -Rapaz, não seja bobo. Eu tentei, mas vim pra cá do mesmo jeito que ele foi até a minha casa: curioso. Quando ele saiu, eu não sabia muito mais do que sabia antes. Apenas algumas coisas sobre Vermute e Gim. Sabia que existe um Dry Martini com cebolinha?
-Escuta. Se nada disso serviu pra nada, quer dizer... Eu vou depois passar algum tempo com um completo estranho pra desaparecer pra sempre? E só?
-Provavelmente, não. Ou eu estaria desperdiçando meu tempo com você. É nesse tipo de momento que você torce para que os muçulmanos estejam certos. 40 virgens...
-É... Mas como é que elas pararam lá? Eles as matam aqui ou sei lá... Tem uma maquininha de fazer virgens?
-... Rapaz, eu é que não vou discutir religião numa hora dessas!
(...)

-Sabe, eu pensei que seria mais difícil.
-Como?
-Aceitar tudo isso... Foi tão rápido, me sinto estranho assim. Parece que eu percebi que levei um microondas estragado e ainda assim continuo pagando as prestações...
-Rapaz... Achei que não iria ser diferente. Mas... Sempre é. Eu tentei subornar o meu, tentei ameaçar minha fé, tentei muitas coisas. Nós estamos aqui há 2 ou três horas. Imagine alguém que acabou de mudar de vida, que passou a vida inteira trabalhando e finalmente ganharia sua recompensa, mas morreu. Imagine alguém que achou um sentido, que achou uma outra pessoa que o completasse, que reencontrou algo que jura que faria sua vida valer à pena, alguém que acabou de começar sua vida. Éramos dois ferrados, tínhamos pouca expectativa. Há aqueles que ficam um dia inteiro conversando com seu fantasma, mensageiro, com o anjo da morte. Mas isso é tudo sem valor. De quê adianta dividir algo que não irá fazer diferença? Experiência não conta quando se está morto. No fim, só resta desaparecer pra sempre. De quê adianta, então?! Bom... Eu não te digo, rapaz. Primeiro, porque é aí que está o mistério da coisa. Segundo, porque você vai ter a sua chance de descobrir, agora...
-Como assim?!? E se eu nã--
-Acalme-se. Nada disso vai adiantar na sua vez. Você terá tanto tempo quanto precisar. E, além do mais, mesmo sendo um jogo sempre diferente, o final é sempre igual: Nós voltamos pra casa e conversamos à respeito.


Assim que terminou a frase, os dois se olham no fundo das suas almas sem-esperança. Se abraçam, sem poder sentir. O tempo se move, e quando os olhos se abrem, você está em pé, na superfície da água. Há uma ponte sobre a sua cabeça e você entende tudo no exato momento. A alma de um suicida se materializa à sua frente. Seu corpo treme, cambaleante e os olhos se viram para cima. A alucinação do último suspiro. Foi como você sentiu. Ele abre os olhos, e depois a boca. Vocês conversam. "Vai ser diferente", você pensa. "Sempre é.". Primeiro, as perguntas dele. A decepção, ao perceber que você não trouxe as respostas, o deixa confuso, agressivo. A sua explicação faz com que ele aceite, como você o fez. Todos sempre aceitam.

"Nota mental: lembrar de esquecer da janela do quarto, do livro, do barulho da rua, dos gatos, ..."

Ao longo das horas, você percebe o sentido. Você entende. Você guarda a lógica para si, apenas pra que ele tenha que descobrí-la por si próprio.

terça-feira, 2 de junho de 2009 Encontro - Parte 1

Madrugada de Sábado, quatro e quatorze. Insônia.

"Será que eu bebi tanto assim?"... É a sexta vez que vai ao banheiro. Não deve ter lido mais do que dez páginas desde a última vez que se levantou. Sábado, e chance nenhuma de alguma coisa melhor pra fazer quando a manhã chegar. Pega o marcador e analisa com orgulho o que as mãos seguram... Faz um mês e meio que não abria aquele maldito livro e agora faltavam no máximo umas 30, 40 páginas pra terminar.

"Nota mental: Arrumar a janela do quarto". Encarando as gotículas de água condensada do vidro, você não encontra coragem para tocá-lo e fechá-lo. Usando cuecas, meias e uma regata que não lembra da última vez que lavou, você tem uma sensação do que uma foca pelada em seu habitat natural sentiria. As extremidades congeladas dos dedos das mãos e dos pés doem como se alguém perfurássem-nas com agulhas, muitas agulhas.

"O vento não incomoda muito quando se está debaixo de dois cobertores e um edredom. E além disso, o som do silêncio das noites ajuda a dormir". Sobre o asfalto, um vulto iluminado, o Fiesta do Augusto, rápido, muito rápido. Reconhece pela vibração que o sistema de som (que você nem pensaria em pensar em comprar) que faz a casa toda chacoalhar. Silêncio. Os dois gatos de sempre, que simplesmente decidiram não miar essa noite. Um grupo de adolescentes que saiu pra beber e estão voltando mais cedo hoje. Nem um pio.

"O universo conspira pra que você consiga terminar o livro ainda hoje e, depois, hibernação". Mais silêncio.

Abre a porta do banheiro.

"Hm. Estranho". Se não bastasse a total ausência dos sons que vêm do exterior, você não sente mais tanto frio. E agora, o clima agradável, até mesmo aprazível. É como se uma nuvem de mormaço tivesse, de repente, invadido cada fresta da sua casa. Você inspira uma tremenda massa dessa brisa, e é como se a sua cabeça tivesse os tecidos separados com uma pinça, colocados em uma lavadora de roupas junto com centenas de fotos suas e a centrífuga fizesse com que todas elas passassem diante de seus olhos, cronologicamente. Então as fotos enxarcadas, descoloridas e borradas, vão pra uma panela e a sopa é despejada no seu crânio. Os órgãos, músculos e demais tecidos são retirados do varal e realocados em seus devidos lugares, seus nervos sensoriais por último, para que sinta de todas as maneiras possíveis o que acabou de acontecer nestes dois segundos.

Ainda em choque, a visão se dissipa lentamente, até que você se encontra de novo. Deitado sobre o tapetinho do banheiro, tudo é um frio cortante. Levantar se torna uma tarefa, um fardo.

-Ei, rapaz! Anda logo... tô com um pouco de pressa, sabe?


-Eu... Quem -- JACK NICHOLSON?!?.. O que--
-É, mas quem você esperava, o Jackson 5 cantando no teu chuveiro?
-Como assi--
-Hehehe... Não precisa responder, estou só brincando.
-Calma, eu só preciso de um tempo pra... O que está fazendo aqui?
-He. Hehehe. Já entendi. Eles nunca iriam se acostumar com isso. É por isso.
-Isso o quê, caramba?!
-Esse negócio de mensageiros e--
-Como assim?
-Olha, vou encurtar a história pra ti garoto...
-... Olha, você está na minha casa e entrou não sei de quê jeito. Até onde eu pude deduzir, alguém me deu alguma droga pesada e me derrubou. Talvez, você. Não sei. Sr Nicholson, com sua licença, mas eu vou chamar a polícia.
-Espera! Calma aí, eu... É que... (Tenta uma inspiração profunda, mas parece que não consegue colocar o ar pulmões à dentro) Hehe, esqueci disso.
-Fala logo! Essa minha noite foi estúpida demais.- "A arma está na gaveta de cuecas", pensa-
-Pode tentar... Escuta, rapaz, é o seguinte: Você está morto.


"-O quê?"
Fim da Parte 1

quarta-feira, 20 de maio de 2009 O Tempo

Imutável, indelével, indiferente e doce tempo. O tempo é um déspota barbudo sem escrúpulos e com transtorno obsessivo-compulsivo. "Tudo em seu devido lugar e, no final, tudo se ajeita" ele diz, enquanto observa o mundo sendo consumido pelas chamas, com direito a visão panorâmica e um saco de pipocas amanteigadas.

Talvez o fato mais belo em relação ao Tempo é que ele existe. Eu sei, eu sei, e como consequência, nós existimos. Os irmãos siameses Contínuo Espaço-Tempo já pediram desculpa por essa cagada, mas pensem no lado positivo: pensem na Scarlett Johansson. (as garotas podem pensar em mim, por outro lado). (Se quiserem, claro).

A questão é: por mais que , o Tempo não vai nos dar uma chance. Não podemos voltar atrás pra jogar a velhinha do trem, apertar fast-forward nas ressacas homéricas ou usar o quadro-a-quadro nas tardes românticas na Prainha. E, pra piorar, a civilização deu a luz à Responsabilidade, que ao mesmo tempo em que organiza e estrutura o castelo de cartas da nossa sociedade, nos espreme entre intervalos de almoço e horas-extra. O tempo que nos satisfaz é o tempo livre, mas a menos que seja um mendigo ou o Tarzan
, obviamente, você não dispõe dele com tanta frequência quanto gostaria.

Se fosse gente, seria confundido com um garotinho autista auto-suficiente: "Rá! Aquele garotinho autista auto-suficiente? Ele não pode brincar com a gente agora... Está ocupado demais causando toda a existência".

Mas pensar que o tempo é um vilão apenas porque não está nem aí para o que você faz com ele é besteira. Na verdade, o tempo é como um vizinho chato: é mais sensato ignorá-lo quando este implica com o volume da guitarra do que xingá-lo sabendo que vai perder a cabeça por alguém que não pode te escutar simplesmente porque grita mais alto. A sabedoria está em acompanhá-lo e compreender que escolhas são feitas no "agora"; e o "depois", tanto quanto foi o "antes" são apenas consequências disso.

Culpem o mordomo, xinguem a mãe, blasfeme pra Deus, reclame da política externa do governo, atire no xerife, chute o computador, quebrem o pacto de Genebra, DESLIGUE A TV, mas deixem o coitado do Tempo em paz.

Se corrermos, tropeçamos e caímos de cara no chão de um jeito que apenas as mais armadas videocassetadas poderiam mostar. Se esperarmos para que alguma coisa aconteça, acabamos sozinhos, sentados na frente da TV, expostos ao Gugu, ao BALÂÂÂNÇAA!!1!, à Tecpix-preço-de-um-cafezinho e quaisquer outras mazelas que a caxinha do demônho propagar. Mas que o ser humano vai aprender, ah... Ele vai. Afinal, temos t-o-d-o o Tempo do mundo pra isso.