Bêbados, psicanalistas, sexo e noites insones; Ovos mexidos, diálogos pós-morte e pessoas que têm merda na cabeça; Animais da fazenda, Afrodescendentes cheios de lascívia e pescarias. É isso que você encontra por aqui.

terça-feira, 13 de outubro de 2009 O Beco

Garoto entra à noite num beco escuro:

-Me dá a arma!
-'TAQUIOPARIU! EU TENHO ADVOGADO, NÃO ME BATE! Cacilda como é que eu fui me enfiar nesse maldito beco, sabia que ía dar em cana... Tô saindo, tô saindo...
-Ih, ó o maluco aí... Me dá uma arma rapaz, vim comprar um trabuco.
-Como assim, moleque?!
-Me dá logo a porcaria da arma!
-Você não deve ter mais do que uns 14 anos, do que está falando?
-Vim aqui comprar uma arma, tá aqui o dinheiro.
-Garoto, você está fora da sua mente? Como é que pode vir aqui num beco escuro à essa hora da noite e simplesmente pedir uma arma? Isso pode ser perigoso para um adolescente, sabia?
-Eu sei, ok? Além do mais, eu tenho dinheiro. Tá aqui. Toma.
-Garoto, você se drogou? Droga, você não tem nem idade pra viajar sozinho! Vá arranjar um outro jeito de se matar, estúpido.
-Olha aqui seu bostinha, você vai acabar chamando a atenção dos tiras, está me ouvindo?! Pensa que eu estou brincando?? Agora pega aqui a grana e larga logo o berro aqui na minha mão!
-Como é-- Coméquié?!? "Tiras"? "Grana"? "BERRO"?!? Você acha que isso aqui é o filme dos Bad Boys? Eu tenho cara de Will Smith por acaso? Você tá mais pra Um Maluco no Pedaço, sacou? "Trabuco"... Ai, ai...
-'Cê tá viajando, falou? Eu tô aqui com a grana toda aqui e o cara acha que é brincadeira.
-Cai fora, garoto...
-Olha, me escuta então. Vou te contar uma história.
-Vai o quê?! Contar uma-- Caramba, quer me fazer dormir, é? Minha mãe não mandou nenhuma babá por aqui. Quem sabe não esquenta um leitinho, então... E faz um mingau, pra trocar as minhas fraldas que eu acho que me borrei com o susto que você me deu, garoto...
-É sério. É sério, sem brincadeira.
-E eu tô aqui pra isso, por acaso?! Tá, fala logo, a noite tá calma, mas se aparecer alguém, tu sai correndo ou te enfio a mão nos córno.
-Então... Quando eu era pequeno--
-Era?! Hahaha!
-*pigarro*... Quando eu era menor, nós éramos pobres e vivíamos num barraco. Minha mãe chegava em casa do trampo e batia no meu pai, que tinha que fazer as tarefas de casa. Hoje dizem que eu não me adapto aos padrões comportamentais da sociedade por causa da falta de um modelo paternal masculino.
-Ah, é?
-Sim. Quer dizer, isso e o fato de eu beber o dia inteiro.
-... E sua mãe sabe disso?
-Talvez, mas ela também bebe pra esquecer...
-E o que você quer fazer com essa arma?
-Hmm... Acha que eu sou trouxa? Te entregar uma dica dessas?
-Ei, rapaz... O que você acha que eu sou? Você está com a arma, não é? Esse é meu ponto, já te vi me observando nos outros dias. Se der alguma coisa errada, você vem aqui e a gente se acerta, ok?
-Você me convenceu... Eu vou te contar. O pato é um velho ricáço... Dono de uma loja de jóias atende pelo nome de Sr. Lauro Rozo, conhece?. Não tem erro, saiu da loja sozinho pra ir depositar o dinheiro das vendas no banco. Deu umas voltas antes, mas daí é que eu vi que ele tava querendo despistar. Faz isso todo dia.
-Investigou até isso, é?
-É, vou até fazer um bem pra ele, hehe... Há boatos de que quer se aposentar, e uma coisa dessas deixa o cara zureta. Vai curtir os netinhos, gastar a aposentadoria em viagens e comprar uns azuizinhos pra botar a velha pra trabalhar... Todo mundo ganha!
-E a grana é boa? Quer dizer... Vale o investimento? Senão é 400 mortinho aqui na minha mão.
-Pelo que eu ouvi por aí, é na base de uns 5, 6 mil por dia. E estamos perto do dia dos namorados, não é? Sabe como são os ricos de pau pequeno... Tentam compensar com dinheiro. O negócio é que as vendas vão subir nesses dias.
-Esperto, esperto. Tô vendo que você é a cabeça da trupe, então, né? Podia usar isso pra alguma coisa grande e quem sabe fazer carreira, sabe?
-Sério?!? Você conhece alguém do alto escalão?
-Não exatamente. Um cara é ex-cunhado do amigo de um meio primo meu. Mas se der certo, te coloco em contato. Sonhe, rapaz... Até que seus sonhos se tornem realidade.
-E você é quem, o Papai-Noel? Isso é vida de crime, eu não quero ir pro show do AC/DC ou coisa do tipo...
-Tá bom. É que eu vou te dizer, você me lembra eu mesmo no início. Muita vontade, mas espera o momento certo. Você tem carteirinha de estudante aí? Vou te fazer um desconto.
-Ah, beleza... Escuta, tô indo. Minha mãe me mata se eu volto pra casa depois das onze.
-Foi o que a minha fez com as minhas irmãs mais novas. Eu não sei como ela conseguiu ouvir elas chegarem à uma da madruga, e olha que eu tenho sono leve.
-... Puts, que pena.
-Brincadeira!
-Ah! você me pegou nessa...
-É... Quem matou fui eu, elas chegaram em casa tarde e fazendo um barulhão do caralho. E eu tenho sono leve, sabe? Quer dizer, foi a terceira vez naquele mês... E eu tenho que trabalhar, não tenho?! Um homem tem limites, não acha?!?
-Ehr... Eu... Tchau!
-Hahaha... Vai logo, garoto... Some daqui...


-Ah, mais um "quero ser zé pequeno". Teu pato morreu semana passada, mané...

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(Hoje, dia 13, é aniversário do Boca. O rapaz fez 18. Já preparem uma cela acolchoada pro garoto... Feliz Aniversário, Boca!)

2 comentários:

Anônimo disse...

bons tempos desse blog, já faz tanto tempo q ele acabou....pena ;;z\x¢

Paulo H. disse...

Não vou dizer que tá difícil voltar a escrever, porque parte disso é preguiça. Mas a gente não abandonou o blog.