Bêbados, psicanalistas, sexo e noites insones; Ovos mexidos, diálogos pós-morte e pessoas que têm merda na cabeça; Animais da fazenda, Afrodescendentes cheios de lascívia e pescarias. É isso que você encontra por aqui.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009 Histórias de Reis e Rainhas, parte 1

Não se sabe ao certo até hoje, o que levou à queda do reinado do Rei * IV, O Queridão,durante o século XV, em uma região relativamente remota da Grande Britânia. O que se sabe, é que houve uma conspiração meticulosamente enjambrada para desestruturar o governo vigente e instaurar uma ditadura patriarcal de orientação religiosa onde valores como distribuir doces à crianças no Halloween e depois negá-las assistência odontológica só para transformá-las em adultos banguelas (pois assim desejava seu deus, o digníssimo e honrado "Azul, Banguela e Careca", ou ABC pros faixa). A proposta era boa, não há como negar. O que aconteceu realmente? Quem eram os conspiradores? Qual foi o fim da história? Ainda há espaço para outra piada? São perguntas que apenas a história responderá, aquela safada.

Enquanto ela não se manifesta, ficamos aqui com uma situação que bem que poderia ser a que aconteceu realmente:

O Rei * IV tinha doze esposas oficiais e todas compareciam aos eventos da corte. Certa vez, num jantar informal, um dos generais (o mais faixa do rei) do seu grande exército, perguntou para uma delas o porquê de ele ter a escolhido para ser a primeira esposa, que logo explicou que era pela sua incrível habilidade em lavar dois pratos ao mesmo tempo com uma esponja só. Naquele tempo se casava por conveniência, a vida era mais simples.

É claro que o grupo começou a cacarejar incontroladamente, dividindo impressões e motivos sem muita relevância até chegar em pauta o episódio da novela do dia anterior (exibido nos anfiteatros reais pela companhia teatral Globo). Então, com um bater de palmas, o rei, de saco cheio já, silencia suas esposas e pede outra cerveja. Ouve-se um resmungo ao fundo: "Gordo preguiçoso! Mamãe estava certa..." O rei ignora sorrindo e dá uma piscadinha para o general.

Numa atitude mais tendenciosa, aquela que deve ser a mais... "Formosa" esposa, aproveitou o silêncio coletivo para gabar-se:
-Ele diz que eu transo melhor!

Ouve-se apenas a risada do general e murmúrios de estranheza das outras esposas. O clima se torna pesado. O rei chama a segurança real:
-O negócio vai feder.

Do fundo, uma das esposas, a mais impulsiva, logo viu-se passada pra trás, e
-Mas ele me disse que era eunuco!
...(silêncio constrangedor)
...(o general tenta esconder as risadas com a mão)
-Eu sabia!
-Seu cachorro! Quero o divórcio!

-Grande bosta! Eu nunca te quis mesmo!
-Puta!

-Não falei, não falei? Falei, não falei?!? - De fato, a #2 tinha falado. Mas sendo a fofoqueira do reino, ninguém dava um tostão pelo que dizia.
-O que é "eunuco"?
-Como é quié?! -esta era surda.
-E não é?
-É, falou o mesmo pra mim!
-Comigo, o mesmo

-Pra mim, também!
...
-Mas você é irmã dele!
-E o que isso tem a ver?
-Como é quié?! - a surda, mais uma vez.
-Calaboca, sua velha surda!
-Olhaqui, não me chama de gorda, sua vaca!
-Quem você está chamando de vaca, sua vadia do caralh*?
-Elba Ramalho de c* é rolha.
-Ai, é impossível da gente se entender, de tão surda que é!
-Como?!? Sim, sim... Com duas colheres de açúcar, por favor.
-Ah, deixa pra lá.
-Café ou chá? Se decida logo, menina...
-Eu vou buscar logo seu chá, anciã.
-Ah, vá você!

Ao levantar-se, a esposa #7 nota que o Rei está tentando sair na maciota, e alerta as outras:
-O REI ESTÁ TENTANDO SAIR NA MACIOTA! - a #7 era daquelas que falavam a primeira coisa que dava na telha.
-Segura ele, que a casa vai cair!
-E pega o general bonitinho também!
-Ah, garotas, obrigado pelo elogio, mas creio que isto não será necessá-- Thwump!

Armadas com frutas e vegetais, a legião de esposas habilmente domou os seguranças, que se chamavam Adolfo e Benito, e -pasme! Eram um casal gay. Puxando um papo sobre o vestido de uma delas, depois de uma longa discussão, chegaram à conclusão de que cetim é di-vi-no e usar seda é como "vestir uma roupa feita de prazer"; Também decidiram que os seguranças teriam direito a um guarda-roupa para cada estação e que nunca repetiriam a combinação do ano passado.

Depois de liberados os seguranças cor-de-rosa, que agora observavam tudo de mãos dadas e apoiando a cabeça no ombro um do outro, o harém voltou ao ponto de partida, o rei e o general.
-Agora vocês são nossos reféns! Obedeçam nossas ordens ou vão sofrem as consequências!
-Quais são as suas reivindicações?! -bradou o rei, confuso e furioso por estar confuso.
-As nossas reivindicações?!? Hm... Queremos a paz mundial, o respeito entre os povos e que a China e os outros países comunistas como Coréia do Norte e Japão percebam que estão errados e sendo ruins para sua população endêmica.

...

-ACABA COM ESSA PUTA DE UMA VEZ! - Bradou a esposa surda, confusa e furiosa por ter deixado derramar chá na sua roupa nova.
-Querida, você é a coisinha mais linda dessa cidade-estado inteira! Teu rostinho seria perfeito se detrás dele houvesse algum resquício de cérebro...
-Alguma coisa me diz que você está ironizando as minhas palavras. Você não fazia isso, você mudou, temos que discutir a relação, porque assim, não dá.
-Na verdade, sou eu, a esposa #3, quem está dizendo isso pra você. E estou bem aqui atrás.
-O QUÊ?!? TERRORISMO POR ANTRAZ??! - a surda, uma vez mais, em um ataque de fúria. A jugular do pescoço da velha se dilata e, tal qual um homem-bomba, parece querer explodir.
-Queridas, que tal me soltarem e veremos o que podemos fazer acerca disso, ok?

-Tudo bem, mas e o que faremos com o General?
-Não sei, primeiramente, apenas me solte que eu estou com um pouco de dor nas canelas...
-Boa idéia! JOGUEM ELE PELA JANELA! DEFENESTREM-NO! - a surda berra ensandecida, espumando pela boca, já com sintomas de raiva canina.

Os guardas de pronto atenderam às ordens da velha surda e largaram o pobre generalzinho, que ainda era virgem e tinha jurado dar umazinha antes de morrer. A vida é injusta e seus sonhos se despedaçam antes que você perceba. Chupa essa, Augusto Cury.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009 Obstinação Indomável

Ricardo Cross-Kraemer Harmônico, ou Dinho C. K. H., era intrincadamente perseverante. E era perseverante por ser vaidoso. E era vaidoso por ter as sombrancelhas não-tão-bem separadas, havia uma ponte peluda e negra onde deveria haver apenas a curva do nariz. "Se a cara não ajuda, a fama tem de fazer o dobro do trabalho". Palavras de Ricardo.

Garoto obstinado, sem dúvida.

Tudo isso porque ele tinha colocado na cabeça que iria fazer o que muita gente nunca chegaria a imaginar que pudesse mover tamanha massa humana em prol de um único objetivo: resgatar a garantia de uma tevê.

Um objetivo.

Não era dos melhores, nota-se. Mas ele era obstinado, jovem, parcialmente calvo (mas só no topo da cabeça) e além de tudo, seu carisma fazia dele um bom negociador. Obviamente, o coordenador do setor administrativo da empresa faria isso num instante. Acontece que Ricardo não era mais o coordenador do setor administrativo da empresa. Ele havia perdido o emprego, e justamente por ter falhado nessa tarefa. Ricardo estava puto da vida. Acompanhemos:

-Oi, em que posso ajudar?
-Hehe... Ehr, oi, eu vim aqui antes e--
-Neeeeeeidê!
-Ah, você me reconhec--
-NEIDEEEEE!
-Escuta, eu só preciso d--
-NEIDÊ!
-Se ela não estiver, não tem problema eu volt--
-Só um momento, por favor.
Uma voz vinda de longe chega estridente, o tom exato que faria uma bagunça numa vidraçaria. Os ouvidos de Ricardo explodem a cara nota alta alcançada pelo esguio e admiravelmente ruidoso ser humano que é Neide. E daqui, todas as escalas parecem altas, altíssimas, astronômicas. Ricardo fica surdo de um ouvido:
-FALA, MENINA!
-O CARA AQUELE TÁ AQUI DE NOVO!
-O JEAN?
-NÃO, O CARA D--
-O SEGURANÇA?
-NÃO, NADA A VER... É UM CLIENT--
-OLHA, SE FOR O SEGURANÇA, MANDA ELE ESPERAR LÁ FORA QUE O MEU MARIDO AINDA TÁ AQUI!
-NÃO, O CARA DA TEVÊ!
-QUEM É QUE VEIO ME VER?!? FALA LOGO!
-O-CARA-DA-TE-VÊ!
-COMO ASSIM, DE ALGUM PROGRAMA? O PORTIOLI DA SBT?
-NÃO É, NÃO TEM NADA A V-- CARAMBA, NEIDE, VEM AQUI!
-O QUE É? O que é? Não tá vendo que eu tava faze-- Ah, maravilha... É o cara da tevê. Por que não me avisou logo, Lorení?
-Com licença, eu preciso--
-Eu tentei te falar, eu tent--
-Quando?
-Como?
-Quando?
-Quando o quê?
-Desculpem, mas eu--
-Quando tu me avisasse, mulher?
-Agora, agorinha, mas tu não me ouviu.
-Agora?
-Agora há pouco.
-Sim, mas então eu não ouvi.
-Sim, eu percebi.
-Mas então a culpa não é minha, nem tem como.
-Não disse isso... Eu só falei que eu tentei te falar e tu não me ouviu.
-Não, eu ouvi, mas não entendi, é diferente.
-É a mesma coisa, é a mesma coisa... Além disso, por que tu mencionou o segurança? O bonitinho, aquele...
-Ei, escutem, eu precis--
-Que segurança? Tu é que não entendeu direito, eu falei que--
-Eu ouvi bem, tu perguntando dele, se tinha vindo falar contigo e tarãrãn... Menina, ele é casado, viu! e tu também.
-Calaboca, guria, não fala besteira... Olha só, me acusando, me caluniando, onde já se viu?... Mas escuta, o que tu queria, afinal de contas?
-Ah, é mesmo!... Ei, aonde ele vai? Moço! MOÇO! Foi embora...

Ricardo desistiu, sabia que este dia iria chegar. E foi então, que, percebendo a impossibilidade de levar o caso adiante, Ricardo pensou: "Tudo isso só por causa de uma tevê? Eu nem assisto à tevê!".

Enquanto a chuva fina molhava seus óculos, pensava: "Eu estou pensando comigo mesmo demais, vou parar enquanto ainda estou são". E não pensou mais nisso pelo resto do dia.

Na saída, desolado por encontrar-se diante de seu primeiro fracasso, parou na porta. Carregava uma tevê analógica, grande e pesada. Estava chuviscando, o carro estava longe, longe demais para se carregar um televisor sem se molhar um pouco. Ricardo puto é uma coisa feia de se ver. Se torna desatento e irritadiço, propenso a erros estúpidos.

A chuva ficou mais forte. enquanto carregava a tevê, o fio escapou da sua mão e ele pisou em cima. O aparelho foi ao chão com força o bastante para quebrar a tela. Sem pestanejar, esticou a perna para chutar a tevê longe, no pico da ira. Perdeu o equilíbrio e caiu de costas no meio da avenida. Ele começou a chorar de desgosto. A tevê olhava para ele come se risse de sua ineficiência em se livrar dela. Dava pra ver seus transístores cheios de emoção para agradar a família inteira, seus circuitos eletrônicos criados especialmente para domar as crianças, seu coração programado para lavagem cerebral e doutrinação do espectador... Ela estava ali, estrebuchando. Mas ria de Ricardo, um teimoso patético.