Bêbados, psicanalistas, sexo e noites insones; Ovos mexidos, diálogos pós-morte e pessoas que têm merda na cabeça; Animais da fazenda, Afrodescendentes cheios de lascívia e pescarias. É isso que você encontra por aqui.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009 Histórias de Reis e Rainhas, parte 2

-Mas quem autorizou esta bazófia?!?
-Foi a velha surda -disse um dos guardas, logo voltando seus olhos para o companheiro.
-Eu não acredito! Mas o General era nossa garantia! E agora está morto! Ah, se vocês não formassem um casal tão bonitinho, eu mandava cortar-lhes a cabeça!
-hehe, obrigado, nós sabemos...
-Mas então... Você queria saber das nossas intenções, não é mesmo?
-Eu quero saber é da minha cerveja e o porque dessa sala ainda estar uma bagunça se há mais de 12 mulheres aqui, sem contar as duas "purpurinadas", ali...

A expressão de todos foi mais ou menos: "Isso é pegadinha? Cadê a câmera?! Só pode ser pegadinha..."

-Recomendaria ao senhor que controlasse esse seu vocábulário, que quem está com o abacaxi no pescoço aqui, é o senhor mesmo.
-Que porcaria de ameaça é essa? Um abacaxi no pescoço?! E vão me torturar com o quê? me fazer lavar a louça que eu sujar se não entregar meu reino?!?
-Haha, senhor engraçadinho... Não lembro de ter casado com um bobo-da-corte, haha...
-Diga-lhe que iremos castrá-lo!
-Como assim, castrá-lo? De novo?
-Ele não é eunuco, guria! Ele só fazia amor com uma de nós, a mais "formosa", aquela piranha! Não gostava do resto! Ah, se ela não tivesse sido tão útil ao nos abrir os olhos, não teria pena de jogá-la no fogo junto com ele!
-Boa idéia! Jogue ele ao fogo!
-Isso! Fogo! Fogo! Fogo! Ai, tenho que dizer que antes eu não gostava de vocês, mas agora percebo que nós seremos melhores amigas pra sempre!

Arrastado pelos guardas portão afora, o rei é atirado em cima de uma imensa fogueira de São João. Não era época para festividades Juninas, mas o Rei gostava de ver a fogueira sempre acesa
durante o ano. Chame isso de ironia. Viu, só! Queima agora, maldito, queima! Anarquia! Punk Rock extremo! Uahr! É isso aí, porraaaaa!

-Não! Querida! Queridas! Me soltem-- Eu-- Amo todas vocês! Juro que sim! Aaaahhh!

Finalmente, depois de muito se debater e gritar, o rei desfalece em meio às chamas e seu corpo é consumido pelo fogo. O povo se ajunta em volta da fogueira, tentando entender qualé a daquelas malucas que botaram fogo no Rei.

-Qualé a de vocês, hein? Por que fizeram isso?!
-Como assim? Ele era um homem terrível! Explorava as pessoas e só se importava com seus próprios prazeres! Chegava em casa e ia logo pedindo "querida, cerveja!"; "querida, pernil!";"querida, meu banho está quente?";"querida, tire os pêlos da minha orelha!"
-Mas ele era sábio! E com ele, nós éramos uma nação estável e que continuava a melhorar mais e mais! Há 5 anos, 5 reles anos, não tínhamos nenhuma agricultura! Hoje são campos e campos! O que falar da segurança, então? Não havia mais crimes, pois a pobreza estava quase extinta! O que me diz disso?
-Bom, vocês não acham um crime ele usar um casaco de pele de animais? Cadê o respeito com a natureza?
...
-Pode ser um pecado capital, um crime, uma heresia, mas não fossem essas mantas, já teríamos morrido de frio!
-Então bota mais lenha nessa fogueira!
-Ei! Deixa essa conversa boba de lado! Diga-me, mulher, o que é que vai ser de nós! Quem vai assumir o governo? Não há nenhum grupo dissidente aqui, todos éramos a favor do rei...
-Eu te digo o que vai ser de vocês! Meninas, vamos lá!...

Foi então que as mulheres tomaram o poder, e depois o deixaram, instaurando uma república anarquista. Foi a primeira experiência de sucesso nesse tipo. Foram anos de alegrias, liberdade, fraternidade e tudo isso de graça, sem impostos, autoridades ou opressões de qualquer tipo. A ideologia foi se enraizando mais adentro da alma dos habitantes, e depois de alguns meses, até os mais velhos se entregaram à vida sem limitações e sentiram uma vez mais o fulgor jovem de estarem vivos e se abrirem à novas experiências.

Porém... Sempre há um porém. A fogueira estava mais alta naquela noite. Assim como a cabeça das pessoas. Estavam queimando dinheiro e uniformes da segurança (embora realmente fosse um crime queimar aquele terninho da luí vitoum, da coleção de outono daquele ano... Um cri-me!) e quaisquer outros adereços ou objetos que simbolizavam a submissão do homem à outros homens ou instituições. Vinho foi distribuído para todos e muitos dormiram ao relento, ao som de violinos e flautas que os outros, acordados (mas nem por isso mais sóbrios) tocavam. Não se sabe ao certo o que foi o causador, mas as chamas se espalharam e o castelo pegou fogo. Digo, literalmente. Não sobrou uma viv'alma pra contar história. Todos morti-nhos. Que pecado.

Notas: Há, logo no início do texto, uma inclinação machista do narrador, que vai "amolecendo" e, já no final, parece que compactua com as esposas, "muda de time". Achei muito interessante, já que não tinha percebido isso enquanto escrevia... Acho que acabei simpatizando com as personagens durante a escrita. Mas não amoleci, de jeito nenhum! Sou é macho! Eu juro! Eu... É melhor parar por aqui...

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