Bêbados, psicanalistas, sexo e noites insones; Ovos mexidos, diálogos pós-morte e pessoas que têm merda na cabeça; Animais da fazenda, Afrodescendentes cheios de lascívia e pescarias. É isso que você encontra por aqui.

terça-feira, 2 de junho de 2009 Encontro - Parte 1

Madrugada de Sábado, quatro e quatorze. Insônia.

"Será que eu bebi tanto assim?"... É a sexta vez que vai ao banheiro. Não deve ter lido mais do que dez páginas desde a última vez que se levantou. Sábado, e chance nenhuma de alguma coisa melhor pra fazer quando a manhã chegar. Pega o marcador e analisa com orgulho o que as mãos seguram... Faz um mês e meio que não abria aquele maldito livro e agora faltavam no máximo umas 30, 40 páginas pra terminar.

"Nota mental: Arrumar a janela do quarto". Encarando as gotículas de água condensada do vidro, você não encontra coragem para tocá-lo e fechá-lo. Usando cuecas, meias e uma regata que não lembra da última vez que lavou, você tem uma sensação do que uma foca pelada em seu habitat natural sentiria. As extremidades congeladas dos dedos das mãos e dos pés doem como se alguém perfurássem-nas com agulhas, muitas agulhas.

"O vento não incomoda muito quando se está debaixo de dois cobertores e um edredom. E além disso, o som do silêncio das noites ajuda a dormir". Sobre o asfalto, um vulto iluminado, o Fiesta do Augusto, rápido, muito rápido. Reconhece pela vibração que o sistema de som (que você nem pensaria em pensar em comprar) que faz a casa toda chacoalhar. Silêncio. Os dois gatos de sempre, que simplesmente decidiram não miar essa noite. Um grupo de adolescentes que saiu pra beber e estão voltando mais cedo hoje. Nem um pio.

"O universo conspira pra que você consiga terminar o livro ainda hoje e, depois, hibernação". Mais silêncio.

Abre a porta do banheiro.

"Hm. Estranho". Se não bastasse a total ausência dos sons que vêm do exterior, você não sente mais tanto frio. E agora, o clima agradável, até mesmo aprazível. É como se uma nuvem de mormaço tivesse, de repente, invadido cada fresta da sua casa. Você inspira uma tremenda massa dessa brisa, e é como se a sua cabeça tivesse os tecidos separados com uma pinça, colocados em uma lavadora de roupas junto com centenas de fotos suas e a centrífuga fizesse com que todas elas passassem diante de seus olhos, cronologicamente. Então as fotos enxarcadas, descoloridas e borradas, vão pra uma panela e a sopa é despejada no seu crânio. Os órgãos, músculos e demais tecidos são retirados do varal e realocados em seus devidos lugares, seus nervos sensoriais por último, para que sinta de todas as maneiras possíveis o que acabou de acontecer nestes dois segundos.

Ainda em choque, a visão se dissipa lentamente, até que você se encontra de novo. Deitado sobre o tapetinho do banheiro, tudo é um frio cortante. Levantar se torna uma tarefa, um fardo.

-Ei, rapaz! Anda logo... tô com um pouco de pressa, sabe?


-Eu... Quem -- JACK NICHOLSON?!?.. O que--
-É, mas quem você esperava, o Jackson 5 cantando no teu chuveiro?
-Como assi--
-Hehehe... Não precisa responder, estou só brincando.
-Calma, eu só preciso de um tempo pra... O que está fazendo aqui?
-He. Hehehe. Já entendi. Eles nunca iriam se acostumar com isso. É por isso.
-Isso o quê, caramba?!
-Esse negócio de mensageiros e--
-Como assim?
-Olha, vou encurtar a história pra ti garoto...
-... Olha, você está na minha casa e entrou não sei de quê jeito. Até onde eu pude deduzir, alguém me deu alguma droga pesada e me derrubou. Talvez, você. Não sei. Sr Nicholson, com sua licença, mas eu vou chamar a polícia.
-Espera! Calma aí, eu... É que... (Tenta uma inspiração profunda, mas parece que não consegue colocar o ar pulmões à dentro) Hehe, esqueci disso.
-Fala logo! Essa minha noite foi estúpida demais.- "A arma está na gaveta de cuecas", pensa-
-Pode tentar... Escuta, rapaz, é o seguinte: Você está morto.


"-O quê?"
Fim da Parte 1

1 comentários:

Pedro Lopez disse...

Cara... eu estou orgulhoso de ti!