Bêbados, psicanalistas, sexo e noites insones; Ovos mexidos, diálogos pós-morte e pessoas que têm merda na cabeça; Animais da fazenda, Afrodescendentes cheios de lascívia e pescarias. É isso que você encontra por aqui.

segunda-feira, 29 de junho de 2009 Sábado no Divã

Eu sentei naquele divã. Tudo muito rústico, mogno para todo o lado. Livros empoeirados Ambiente meio sujo. A principio fiquei com nojo daquelas almofadas cheias de babados, aquele cheiro de ópio no ar, aquele cachimbo ainda fumegava uma fumaça fedorenta. Cinzas que abarrotavam o já cheio cinzeiro, ainda estavam espalhadas por todo canto, como que se as outras pessoas que estiveram por ali tivessem deixado seus restos, seus rastros, suas preocupações e neuroses.

- Você é realmente pode me ajudar?
- Mas é claro, eu me formei em medicina. Está vendo aquele diploma na parede? Nele está escrito que sou médico. Eu posso te ajudar.
- Hum.
- Interessante este seu “hum”...
Logo começou a rabiscar naquele bloco que estava em suas mãos.
- Porque interessante? – disse eu – Oque tem de mais eu falar “hum”?
- Mostra sua insegurança com relação as situações. Você tem feito sexo?
- Err... Sim, eu acho.
- Você acha?
- Qual a relação de sexo com o “hum”? Eu não vejo nada ligado ao meu “hum”.
- É ai que você se engana meu caro, tudo tem carácter sexual.
- Mas o meu problema é outro. Eu não sou inseguro nem coisa nenhuma. O problema é que a minha mãe...
- Complexo de Édipo... Prossiga.
- Como?
- Aqui está o problema. Você é inseguro por causa da sua mãe.
- Caralho. Não é nada disso eu só ia citar uma coisa que ela me disse sobre uma coisa e tu já vai lançando uma coisa nada a ver cara!
- Calma, calma. Você veio aqui para pedir ajuda. Você quer que eu te ajude ou não?
- É, quero sim. Desculpa, não era minha intenção ficar tão exaltado. Normalmente eu não sou assim...
- Você é como, então?
- Eu sou um cara pacífico, sempre prezo pela paz de espírito...
- Você sabe o que é transtorno de humor bipolar? Você é um grande candidato a sofrer desse mal...
- Comoéqueé? Cara... você tá realmente me tirando do sério. Eu não tenho essa porcaria que tu falou coisa nenhuma, eu to é ficando irritado porque tu fica falando que eu tenho um monte de problemas, ao invés de me ajudar. Uau, foi bom falar tudo isso!
- Sei, sei... O senhor é gay?

Nisso tudo, punhos ficam serrados, uma gotícula de suor escorre ao lado do rosto. Uma reação para cima do interlocutor daquelas perguntas era inevitável. Calmamente, respiro fundo e perguntei, como se não houvesse entendido:

- Como?
- Você tem relacionamentos com homens?
- Eu entendi a pergunta na primeira vez, eu quero saber, porque cargas d’água você ta fazendo essa porra de pergunta. Eu por acaso tenho jeito de boiola?
- Isso não vem em questão no momento... Eu apenas preciso saber.
- Porque essa pergunta? O Sr. Está interessado por acaso?
- Eu apenas estou perguntando. Responda se você é ou não, isso pode ser a causa de vários dos seus problemas.
- Não, eu não sou fruta
- Presumo então que você goste de mulheres, certo?
- Sim, e muito.
- Você bebe, fuma ou usa drogas?
- As vezes sim, mas não nessa ordem, obrigatoriamente.

Pois então que o médico olha no relógio, faz sinal que vai levantar-se de sua poltrona, exita, senta novamente e então fala:

- Eu acho que a nossa sessão acabou, por hoje. Eu vou lhe receitar lítio, o senhor já tomou?
- Não, nunca.
- Tudo bem então. Eu vou lhe fazer uma receita.

O médico se levanta então, vai em direção a escrivaninha, remexe alguns papéis e começa a escrever algumas coisas num bloco.
Também me levanto, seguindo-o, aproveito a falta de atenção e pego uma pesado busto empoeirado que estava sobre a lareira. Nisso me vejo precipitando o pesado busto de Minerva sobre a cabeça do pobre médico. Ele tomba. Do topo do corpo escorre o sangue de uma cor rúbia, que se acumula por entre os espaços das tábuas de madeira do chão, encharcando aquele tapete, já bastante carcomido pelas traças. O cheiro de ferro do sangue me vem as narinas. Com afetação aprecio aquele momento e vejo o quão fina é linha entre a vida e a morte. Encho-me êxtase e logo saio da sala, para nunca mais voltar ali.

Talvez ele estivesse certo, talvez eu tivesse todas aquelas coisas que ele me havia dito. Mas o mais provável é que eu seja só um psicopata comum. Acho que ele nunca vai saber ao certo. Provavelmente porque ele está mortinho da silva naquela merda que fede. Entendeu? Eu matei ele, cara. Merda, eu matei o cara. É isso: eu sou um maníaco homicída! - No fim das contas isto tudo serviu para algo, ao menos sei bem qual é o meu problema. Que merda fodida é tudo isso, não?






Chupa essa, Freud.

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